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A salamandra

Olhando fixamente para o céu cinzento, o homem de cara fechada, sentado em cima de um tronco de azinho, sabia já que a chuva ia voltar.

Essa certeza deixava-o com sentimentos diferentes. Por um lado, inundava-o uma felicidade muito grande que lhe assegurava a água a alimentar as terras e as barragens e ribeiras cheias. Por outro lado, os perigos que a água trazia consigo assustava-o e pensava que, em demasia talvez causasse os estragos que vira, pela televisão, na grande cidade de Lisboa.

Passaporte

Nem todos temos um. Embora todos nós, cidadãos de países onde se pode viajar, tenhamos direito a um, possamos utilizá-lo para sair de um território que é nosso nacional, passar por outro, chegar a outro ainda, nem todos temos um. Nós os portugueses temos um cartão de cidadão que nos identifica, que nos dá um número de identificação, um número de pagamento de impostos, um número para receber uma reforma nos anos mais serôdios da nossa vida e um outro que nos dia quando e onde podemos ir ao nosso médico.

Nenhuma das opções está correta

O tempo passa e nós passamos pelo tempo. Tantas vezes o tempo passa por nós e não sabemos bem como entender se é ele a adiantar-se, se o atraso é nosso, se as coisas são assim ou diferentes na vida de cada um. O tempo baralha-nos. Na vida, nos serviços públicos, nos transportes, em todo o lado. Até parece que nos regemos por aquela famosa frase dos testes de escolha múltipla, em que nenhuma das opções está correta…

As cantigas que trauteamos

Era pequenino. Novinho e já ouvia e tentava imitar as cantigas que ouvia trautear. É um verbo bonito e diferente. Nunca tive muito, diria nenhum, sucesso nas minhas tentativas de imitação a cantar. Até ao dia de hoje, e isso não mudará certamente enquanto eu viva. Também, não sei quanto tempo vou viver. A nossa duração física e carnal é sempre uma incógnita. Houvera uma bola de cristal e certamente muita gente a usaria para descobrir o seu tempo nesta terra.

Folheto informativo

O folheto informativo chegava todos os dias à mesma hora. Trazia toda a informação necessária para aqueles que o recebiam e aqueles que o emitiam. Essa era a sua função e esse é o seu primordial propósito.

Poderia ter outro formato, o de um jornal, de uma brochura, mas não tinha. Era apenas um folheto informativo que em poucas páginas trazia tudo aquilo que se considerava relevante.

Passou por vários formatos de emissão e de chegada, desde o antigo papel, até ao digital. Hoje em dia, aquilo que interessa chega num clique. Tudo e nada.

A fonte que não queria parar…

Numa terra muito longínqua, perto de tantos sítios que são ao mesmo tempo desconhecidos e conhecidos, havia uma fonte que não queria parar de deixar água.

Neste tempo em que vivemos, quando a água escasseia em quase todo o lado, conhecer a fonte da qual nos podemos alimentar será uma mais-valia…

Porém, a nossa história de hoje, se é que me posso achar no direito de vos contar uma história semanal. Cada texto que escrevo e apresento ao vosso juízo é uma tentativa de partilha e de receção das opiniões de quem lê e quem presta a atenção que considera por conveniente.

A caneta cuja tinta nunca terminava e a vela que não se apagava

Na mesma sala, em cima de uma secretária velha e abandonada, estavam uma vela ainda acesa, que parecia não ter fim e, ao seu lado, uma caneta que tinha escrito uma vida inteira. E era uma caneta que ainda assim continuava a ter tinta. Já não era usada mas existia ainda, tal como a luz daquela vela que não se apagou com a solidão. As coisas, os objetos quando deixam de ser usados, perdem a sua utilidade e, salvo aqueles que os utilizaram alguma vez, ninguém se lembra para que serviam.

A décima quarta palavra

Riu-se discretamente ao ouvir o minuto 12 do podcast. Não sei se exatamente pelo conteúdo ou se pela forma. Percebeu a ironia do minuto, da fala e do sotaque.

Os podcasts entraram na nossa vida de forma tão profunda que quase todos tivemos já um encontro, imediato ou mais prolongado, com um podcast. Aqueles que não tiveram ainda, talvez o passem a ter, fruto da curiosidade da leitura deste pequeno texto.

O suspiro do vento

Hoje, quando escrevo esta breve crónica, penso essencialmente naquilo que leva alguém a escrever um texto. Escreveria sobre alguém ou alguma coisa. Escreveria sobre uma terra, um tempo passado, uma alegria, um lamento? Ou escreveria sobre um simples movimento do momento que não se move!

O suspiro do vento é tão forte nesta breve crónica quanto o é no Alentejo, no Algarve, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar.

O momento antes de dormir

Na semana passada, falamos sobre a insistência. Não sei exatamente porquê, decidi insistir num tema que muita gente poderá insistir. A insistência da semana passada, como qualquer insistência só deve ir até ao momento certo da sua existência. Prefixos diferentes mas raízes iguais. É tão curiosa a língua portuguesa.

Curiosa e diversa. Diversa e filha de várias origens, como a árabe! E isto leva-nos ao momento seguinte deste texto.

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