26 Novembro 2022      11:44

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Folheto informativo

O folheto informativo chegava todos os dias à mesma hora. Trazia toda a informação necessária para aqueles que o recebiam e aqueles que o emitiam. Essa era a sua função e esse é o seu primordial propósito.

Poderia ter outro formato, o de um jornal, de uma brochura, mas não tinha. Era apenas um folheto informativo que em poucas páginas trazia tudo aquilo que se considerava relevante.

Passou por vários formatos de emissão e de chegada, desde o antigo papel, até ao digital. Hoje em dia, aquilo que interessa chega num clique. Tudo e nada.

Naquele dia em particular, o folheto chegou absolutamente em branco. Nem o dia, nem o título ou as manchetes faziam parte daquela edição. Acabava por não ser uma edição porque nada assinalava que assim fosse. Quem recebeu o documento e esperava ansiosamente saber o que se passava, quem ansiava conhecer mais do mundo, descobrir a atualidade e preocupar-se ou descansar-se, ficou pálido. Tão pálido como as próprias filhas que deviam estar preenchidas.

Após o momento de surpresa e espanto, começaram as movimentações dos interessados. Na casa onde eram impressos os folhetos começaram a chover telefonemas em busca da informação que não tinha chegado naquele dia.

Sem as letras e as imagens, aquele era só um folheto. Não tinha a dimensão informativa, nem cumpria a sua função. Entre aqueles que acorreram, muitos sentiam-se perdidos. Outros tantos não sabiam que palavras usar para contar o quanto a informação lhes era necessária.

Dentro das portas de onde saíram as páginas, muitas mais aguardavam o dia em que sairiam, talvez com mais tinta que as desse dia. O caos foi enorme, mas nada seria dito sobre ele naquelas folhas. Talvez no dia seguinte as páginas já cheias trouxessem consigo o dom da novidade, a data, as manchetes e as notícias detalhadas.

Este não era um folheto informativo normal. Até na data em que não disse nada, encheu as ruas de informação. O formato de e-mail passou a oral e correu de boca em boca o seu conteúdo.

A manchete dizia que naquele dia o folheto informativo tão pontual e detalhado surpreendera e nada dizia. As colunas de opinião passaram a ser primeira página e debatiam as razões, a informação falsa, se aquilo tinha mesmo existido. Até que tudo acalmasse ainda se passaram umas boas horas, mas ao final do dia quase todos já se tinham esquecido do sucedido.

No dia seguinte, o folheto informativo vinha repleto de informação, o dia, a manchete e, sobre o dia anterior, nem um palavra.

Como tudo, o dia em que a informação se surpreendeu, caiu no esquecimento.