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IX Koh Mak - Tailândia

O destino seguinte dos dois não estava definido. A decisão, como muitas no passado, tinha sido feita em comum acordo e decidiram os dois que aquela era a melhor opção. A mulher de Amaro tinha pedido expressamente que fossem ambos para um lugar escondido, com o menor número de pessoas possível. Na fase em que se encontrava, apenas o silêncio a ajudaria a aguentar o peso que sobre a sua cabeça se acumulava. A mulher de Amaro, Linda, tinha consciência do seu estado e sabia o que lhe estava reservado.

VIII. Hong Kong

A cidade é fantástica. Os prédios são enormes e estão aglomerados uns em cima dos outros. As ruas, no centro, são tão estreitas nos bairros antigos que nelas quase não entra o sol. Há sempre uma azáfama. Desde Causeway Bay até Kowloon, Hong Kong é cheio de variedade. Os cheiros da comida, os aquários com precisa prontos a comer e o mar ao fundo. Atrás, a montanha verde e a China. Hong Kong e Macau são, por tão diversas razões, regiões especiais.

VII. O princípio do desfecho

Na casa da ex-mulher de Amaro, os investigadores não encontraram nada relevante, que pudesse indiciar o que terá acontecido, o motivo do seu desaparecimento. Mentimos, embora não tivessem encontrado nenhuma pista evidente do desaparecimento da senhora, faltava na casa, uma mala, algumas roupas e o perfume preferido da desaparecida, notou um dos filhos. Evidentemente, poderia ter sido uma estratégia para encobrir o crime, se tivesse havido crime. Só podia ser isso, pensaram os investigadores. Na cabeça dos filhos havia ainda a dúvida. O pai não poderia ter feito aquilo.

VI. A chegada a Lisboa e passos seguintes

Chegaram a Lisboa num dos voos matinais, vindos do Médio Oriente. O avião vinha cheio naquele dia. Ambos viajavam com muito pouca bagagem. Além da roupa mais ou menos formal que usavam, nada havia a assinalar que causasse espanto naqueles dois viajantes insuspeitos. Traziam, todavia, os pertences do falecido.

V. A investigação

Na esquadra, os dois investigadores começaram a juntar as peças do puzzle. O caminho que tal investigação seguiria ainda não era muito claro. Aparentemente não havia sinal de crime, aparentemente, a vítima morrera sozinha, no meio daquela rua, sem que essa morte fosse causada por terceiros. Após os dias em coma, vivendo imagens num subconsciente que nunca poderia reportar, os órgãos vitais do falecido decidiram parar e as máquinas que os mantinham foram desligadas. Não foi o primeiro caso, não será o último.

IV. O dia seguinte

O dia seguinte à morte de Amaro amanheceu menos frio do que os dias anteriores. A neve e o gelo que se instalara naquela cidade começou a desaparecer. Tal como o calor do corpo de Amaro que se diluiu com o seu último sopro, as ruas também se começaram a libertar do fogo fátuo.

III. O outro lado da porta

Amaro fez a barba com uma máquina usada e enferrujada que usava uma vez por semana. Os pelos tinham-se tornado demasiado resistentes àquela velha máquina. Deixou-lhe a cara marcada de feridas e áreas em que os pelos teimaram em ficar. Ficaria um pouco melhor do que aquilo que estava antes. Pousou a máquina em cima do lavatório e não mais se lembrou dela. Amaro tivera sempre uma relação sempre complicada com a casa de banho. Apesar de ser o sítio em que estava na intimidade consigo mesmo, em que deixava sair a imensidão de dores e a imundice.

II. Momentos após o início

Amaro continuava sentado naquela cama que o aprisionava e fazia com que se contorcesse de forma vulnerável sem que conseguisse que o seu corpo respondesse ao apelo que a mente fazia.

Quando perdemos o domínio do corpo, a mente tenta dar-lhe ordens em vão. Amaro, por todas as razões que conheço, tinha perdido o domínio do corpo. Instrumentalizava-o ainda, ligeiramente, quando se mexia. Nada era como antes, nada é como no dia anterior. Não filosofemos.

I. O início

No meio de um suspiro sôfrego, meio desencantado com a situação que se tinha instalado, Amaro levantou-se do colchão duro que o incomodava ostensivamente e inclinou-se na cama.

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