10 Fevereiro 2019      07:20

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VI. A chegada a Lisboa e passos seguintes

Chegaram a Lisboa num dos voos matinais, vindos do Médio Oriente. O avião vinha cheio naquele dia. Ambos viajavam com muito pouca bagagem. Além da roupa mais ou menos formal que usavam, nada havia a assinalar que causasse espanto naqueles dois viajantes insuspeitos. Traziam, todavia, os pertences do falecido.

Esperavam-nos dois agentes da Polícia Judiciária que se identificaram de imediato, logo que viram os dois de ar perdido. Cumprimentaram-se. Os neo-zelandeses não falavam uma palavra de português e os portugueses tinham um nível satisfatório de inglês, o que facilitava bastante a comunicação entre si.

Encaminharam os detetives visitantes à sede da Polícia Judiciária e lá explicaram as diligências que já tinham sido tomadas. Assim, tinham já contactado a família, reportando o sucedido. Quando se referiam à família, referiam-se aos dois filhos pois a mulher de Amaro desaparecera na mesma altura do marido e até esse dia. Não tinha sido ainda dada conta de que estivesse em algum lugar. Tratava-se de uma situação muito complicada. Pensava-se em quase todo o tipo de justificação para o desaparecimento de ambos. Tinham desaparecido no mesmo exato dia. A hipótese mais consensual era a de que o marido matara a mulher e fugira. O corpo não tinha ainda surgido. As pistas tinham sido todas seguidas e nada. Sempre um beco sem saída.

Os detetives neo-zelandeses olharam-se e pensaram. Cada um deles pensou numa hipótese diferente. Os polícias portugueses decidiram que os poriam em contacto com os filhos, ambos adultos e, diga-se, devastados e atormentados com a tragédia que assolara o seu seio familiar. Cada um deles pensava no que poderia ter acontecido. Ambos culpavam o pai pelo desaparecimento da sua mãe.

A forma como receberam a notícia fê-los pensar aquilo que todos vós estais a pensar neste momento, atrevo-me a dizer. Matou a mãe, escondeu o corpo num lugar qualquer que não fora ainda encontrado e fugira para o sítio mais longínquo.

A hipótese não era colocada de parte. Nada estava fora de questão. No dia seguinte, os filhos deslocaram-se às instalações da Polícia Judiciária para se encontrarem com os investigadores. Vinham ambos com um ar de desespero. A sua vida após aquele dia mudara, completamente. Visivelmente abatidos pela morte do pai, guardavam ainda algum rancor. Abriram de imediato os pertences da mãe e a casa onde habitava aos detetives. A conversa foi muito dura e prolongada. Nenhum deles sentiu um peso a sair de cima de si. Pelo contrário, sabiam que começava uma nova fase de um pesadelo que durava já há muito.

Os investigadores quiseram ainda saber se os pais se falavam após o divórcio. Ambos acenaram que sim, muito embora o divórcio tenha sido difícil e sem que nunca tenham percebido a razão, o pai e a mãe falavam-se e estavam juntos em situações onde deviam estar.

No dia seguinte iriam a casa da mãe, mas ainda faltava e precisavam ir ao apartamento do pai e ao seu consultório, em busca de pistas, em busca de respostas.

 

(continua)

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