11 Março 2018      12:02

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The Magnetic Fields: 50 Song Memoir

Não foi amor à primeira vista. A expectativa, essa sim, era imensa, as circunstâncias exigiam-no. Afinal, na memória (como não?), havia uma espécie de irmão mais velho que a seu tempo tudo esmagara. Uma sombra sem fim à vista numa Terra que é esférica e, por isso, sem fronteira definida – o que convém destacar, mesmo se óbvio, dados os tempos confusos.

Mas, há que admitir, é nos espectros, e de preferência noctívagos, que assenta este mundo. Sem rememoração e sem obscuridade não há equilíbrio possível, pois do outro lado vêm a grande velocidade e imparáveis a necessidade de explosão, a força do riso e a propensão genética dos humanos para o uso de máscaras. Se o admitirmos (ao mundo) como sombrio e deixarmos brotar a máscara sem resistência, então vale a seguinte premissa (alquimia de suporte para o mecanismo de sobrevivência): a existência como a maravilhosa impressão de um erro irreparável.

Ah! – Magnífico princípio para uma existência sem sentido em termos latos. Magnífica hipótese de busca de um sentido perfeita ou imperfeitamente integrado na pequenez do ser – suficientemente pequeno para estar vivo, no entanto; hipercomplexidade multicelular no limite ilimitado da probabilidade zero (o infinitésimo) neste universo gelado e vácuo e, enfim, para o que sabemos e de momento podemos saber, único.

Um nome aflora, um nome que estranhamente não gera fãs: Emil Mihai Cioran. O edificador da filosofia pessimista (que tem tudo a ver com o íntimo em relação ao infinito transitório, i.e., o que resta da vida, e nada a ver com o decorrer do dia-a-dia). O tal que dizia não ter inventado nada, apenas se limitara a “secretariar” as suas sensações. Sensações de desespero que nunca deixavam de ser racionais.

Mas Cioran era filósofo – que outra coisa podia fazer? A máscara de que usufruía tinha necessariamente um método por trás que a condenava ao rigor científico.Stephin Merritt, músico, deus menor criativo, tem um espaço de acção bem mais amplo.

Palavras projectadas num dia de tempestade. Dia altivo; quatro camadas de nuvens claramente distintas, entre a brancura alva e o cinzento tisnado; de pressão atmosférica entre extremos; um tornado de aspecto temível no horizonte, mas que chega desordenado e já sem grande parte da força destrutiva, apenas vento forte sem direcção definida, sem constituição. 50 canções, uma para cada ano de vida do músico. Um disco perfeito para uma vida que foi o que foi até àquele ponto. Das vidas, sublimado o ridículo, não se espera perfeição – de alguns discos sim.

Três exemplos (e mais nada a dizer):

De "'86: How I Failed Ethics"

“Though majoring in Visual and Environmental Studies

And minoring in History of Sci

I had to retake Ethics from my Mennonite professor

For whom my skepticism didn't fly”

 

De "'95: A Serious Mistake"

“Which one of us will it be

To end this tale of misery?

When will this comedy turn sour?

A year, a month, a week, an hour?

All we can be sure of is it will

All good things come to bad endsBut still …

Let's undertake a serious mistake”

 

De "'92: Weird Diseases"

“Weird diseases

I get weird diseases

Whenever Krishna sneezes

I get weird diseases

So at the least sign of emotion

I got a tranquilizing potion

Thus from the time I was a young boy

I could feel neither anger nor joy”

 

Imagem de thefountain.eu