18 Junho 2023      12:46

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Incêndios florestais. Fogos - um cartão de visita português

Do abandono da terra, dos incêndios e de um governo que não quer saber da agricultura.

Incêndios florestais. Fogos. Um cartão de visita português.

Portugal foi o segundo país europeu mais afetado pelos fogos florestais em 2022, com 153 incêndios a queimarem uma área de 949 quilómetros quadrados, de acordo com um relatório divulgado esta quarta-feira pela Agência Europeia do Ambiente.

Espanha foi o país com o pior desempenho, tendo ardido 2.754 km2 e a França ficou em terceiro lugar com 74 fogos florestais que destruíram uma área de 465 km2. O estudo refere que a Península Ibérica vai registar um "aumento acentuado" do número de dias com elevado perigo de incêndio, num cenário de alterações climáticas de aquecimento global de 3 °C até ao final do século.

A agência regista ainda que a época de incêndios florestais de 2022 foi a segunda pior desde 2000, com mais de 5.000 km2 (o dobro da área do Luxemburgo) ardidos durante os meses de verão (junho, julho e agosto) e uma área recorde de sítios de proteção da natureza Natura2000 afetados. As perdas (materiais) causadas pelos incêndios atingiram, no ano passado, pelo menos dois mil milhões de euros na Europa. Na sequência dos apelos dos ministros da UE e do Parlamento Europeu, a Comissão elaborou em 2022, um plano de ação para a prevenção de incêndios florestais, baseado em três objetivos: 1) melhorar a capacidade administrativa; 2) melhorar os conhecimentos; 3) aumentar os investimentos em ações de prevenção de incêndios florestais.

Mas se não atacarmos as causas, de nada vale pensar que conseguimos diminuir a área ardida em Portugal. O abandono das terras e do mundo rural só pode ter como consequência incêndios de proporções incomensuráveis.

O homem é o cuidador do território! Podem atualizar o DECIR todos os anos, sem homens no território permanentemente para cuidar, para limpar, para semear e produzir, estaremos sempre nas mãos do fogo e da imprevisibilidade. Sem incentivos para estar no território, sem ajudas à produção, sem apoios expressos à agricultura e à produção florestal, de forma a garantir a sua rentabilidade (sim! Porque a atividade agrícola, grosso modo, tem de ser rentável e só a quimera esquerdista é que acha que o mundo rural vive do ar) é possível manter o território limpo e cuidado. O abandono da terra é sinónimo de maior perigosidade e maior probabilidade de incêndios.

A invasão bárbara da Ucrânia ainda fez surgir o conceito de soberania alimentar, que sustentou algumas parangonas e um rasgo de afirmações governamentais. Contudo, depressa o governo se esqueceu de tal conceito. Foi apenas brevíssimo apontamento que caiu no esquecimento. Seca, guerra, seca, aumento dos custos de produção, devastação das competências próprias das Direções Regionais de Agricultura ao diluí-las nas CCDRs, a transferência das competências sobre a floresta para o Ministério do Ambiente, atrasos consecutivos nas candidaturas e respetivos pagamentos, a burocracia envolvida em qualquer projeto, a inexistência do Plano de Eficiência Hídrica do Alentejo e a inadequação dos instrumentos estratégicos de ordenamento do território, (PROTs), bem como a complexidade no processo administrativo para construção de barragens e charcas (só muito recentemente revisto) são peças do mesmo puzzle que tem destruído o interior do pais, a agricultura e a atratividade da atividade.

O PS elitista, urbano e complexado com o mundo rural, abandonou completamente o setor.

Nem refiro a responsável política pelo Ministério, que é uma inexistência.

Tudo somado, não pode dar bom resultado! Vamos ver se este ano, com o grau de seca declarado, que se contrapõe à inexistência da gestão estratégica da água, se o algoritmo com que nos brindaram o ano passado, também fica aquém das expectativas. Oxalá.