18 Março 2024      08:41

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O Alentejo emancipou-se do PCP

Como é sempre bom reavivar memórias, visto que já não escrevo há muito tempo, sou um eleitor histórico e crónico do PCP. Sou daqueles como o secretário-geral Paulo Raimundo disse “podem não concordar com tudo, mas votam CDU”. O tema que me traz é a perda por parte da CDU do último bastião histórico desde as primeiras eleições livres, Beja e a consequente e obrigatória reflexão sobre o que isto quer dizer.

Com o pós 25 de Abril o Alentejo protagonizou um dos mais quentes e belos períodos da história, a Reforma Agrária. Muitos criticam este período, alguns alentejanos criticam este período, mas muitos alentejanos intervenientes neste processo emocionam-se quando falam deste período. Sem alongar muito, porque não tenho muito material sobre ele, a Reforma Agrária pretendeu dividir o latifúndio em pequenas parcelas de terra, coletivizar os meios de produção, criar cooperativas por forma a dividir a produção e com o excedente vender para outras cooperativas de consumo localizadas nos centros urbanos. Por várias razões, a Reforma Agrária não prosseguiu, uma delas, as mudanças de mentalidades, que irei voltar mais à frente.

 Na região, o PCP em autárquicas e legislativas sempre teve um peso grande. Com a exceção de Portalegre, Évora e Beja sempre elegeu para o Parlamento. Os tempos foram mudando, entrada de Portugal na UE, queda do muro de Berlim, queda da União Soviética, adesão ao Euro, fim da maioria dos partidos marxistas-leninistas na Europa, Geringonça, guerra na Ucrânia… Talvez cada um destes marcos, equivalha a um punhado de autarquias que o PCP fora perdendo, mas no parlamento continuava vivo. Entre 2002 e 2015 a CDU veio em crescendo, chegando a atingir os 17 deputados em 2015. Em 2015 deu-se um momento muito importante para a esquerda à esquerda do PS, a possibilidade de intervir no plano legislativo, reverter medidas do período da Troika e conquistar avanços para muitos Portugueses. Foi um período de avanços nos rendimentos e foi um período de estabilidade. Contudo, no plano político CDU e BE, com destaque para a CDU, tiveram derrotas eleitorais. 2019 CDU 12 deputados, 2022 CDU 6 deputados, perda do deputado em Évora, 2024 CDU 4 deputados, perda do deputado em Beja.

Há muito tempo que o Alentejo deixou de ser rural, onde se fazia uma agricultura familiar e de subsistência, de combate ao latifúndio, de grande unidade entre os habitantes, hoje trabalha-se de trator com ar condicionado ou complementam-se rendimentos com as cripto moedas. Os tempos mudam, as mentalidades aproximam-se, os rendimentos aumentam, as vontades mudam, o capitalismo vence e o PCP perde.

O PCP não procura protagonismo, a escolha de Paulo Raimundo ao invés de João Oliveira ou João Ferreira mostra isso, um perfeito desconhecido para a maioria dos Portugueses. O discurso faz sentido, para quem romantiza uma constante revolução, a melhor defesa para os trabalhadores está no PCP, para quem se quer dar ao trabalho de melhorar as suas condições de trabalho e dos outros. Não se auguram grandes mudanças para o PCP, visto o Alentejo continuar a sua trajetória de terceirização e urbanização, e o próprio PCP querer manter o seu discurso utópico para os operários, camponeses, no fundo manter a sua imagem ligada a um idílico de revolução. Como não quero acabar de uma forma bastante negativa, porque o futuro do PCP não se extingue nos resultados eleitorais, a CDU continua a ser um voto seguro para quem é de esquerda, quem acredita na saúde e educação pública e quem acredita que na luta estão os avanços do mundo.

 

Por Alexandre Carvalho

Alexandre Carvalho tem 28 anos e é natural do Porto. Licenciado em Comunicação Empresarial pelo ISCAP, ligado ao ramo do design de interiores e da vertente digital. Interessado pelo panorama da política nacional. | alexandremiguel.c95@outlook.com