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A CAIXA

A Carlota era filha única e tinha uma caixa guardada debaixo da cama. Carlota não contava a ninguém o que guardava na caixa. Era de madeira lacada e tinha um cadeado. Só Carlota tinha a chave e só Carlota conhecia os segredos da sua caixa. Não era uma caixa de Pandora nem guardaria todos os males do mundo. Era uma simples caixa onde se guardavam os segredos de infância, as recordações da adolescência e os sonhos do futuro que se esperavam melhores ainda do que o planeado.

A ESTAÇÃO

Entrei na estação, duas estações acima da estação de saída. Era uma estação de comboios já antiga, rodeada de um manto de neve que transformava toda a rua num longo caminho branco e gelado, escondendo debaixo o seu manto verde de relva que adormecia gelada sob o cobertor forçado. Tirei o bilhete na máquina automática e sentei-me na sala de espera, aquecida e despida de qualquer enfeite na parede. Lá dentro, dois longos bancos de madeira que deixavam que o sol, entrado pela janela, se sentasse ao lado de todas as pessoas. A estação era fria e ao mesmo tempo, muito quente no seu interior.

DOIS PEIXES NO AQUÁRIO

No apartamento, decorado em estilo minimalista, de bom gosto visto no IKEA, Madalena tinha tudo arrumado, exceto o quarto dos miúdos, porque esse não o conseguia manter em ordem. Na sala, apenas um sofá grande, uma chaise longue, um tapete com riscos abstratos, um móvel comprido de televisão, a respetiva televisão em cima, uma janela com cortinados, também eles de desenhos abstratos a lembrar que aquela casa era decorada com bom gosto.

A TASCA

O Manuel entrou na tasca da aldeia num dia de chuva e de vento. Estas alturas do ano eram cheias de vento, frio e água que caía dos céus como se alguém a estivesse a despejar a partir de um daqueles baldes chuveiro que Manuel usava naquela divisão da casa, que era como se fosse uma casa de banho. A sua mulher, Antónia, aquecia a água à lareira e, nesse balde, dentro do alguidar, Manuel tomava banho aí de oito em oito dias, porque o processo era moroso e complicado.

ÉVORA: PRÉMIO VERGÍLIO FERREIRA ENTREGUE A AÇOREANO

O jurí do Prémio Literário Vergílio Ferreira atribuiu hoje em Évora o 20.º galardão ao escritor açoreano João de Melo.
 
O júri do Prémiofoi composto este ano ano pelos Professores António Sáez Delgado (Presidente), Elisa Esteves, Gustavo Rubim, Carlos Reis e pela escritora Lídia Jorge.

CANONIZAÇÃO LITERÁRIA OU BEATIFICAÇÃO?

Hoje, trago-vos algumas questões que tenho vindo a colocar-me no que respeita à elaboração dos programas de Língua Portuguesa porque, não sei se repararam, mas há anos que se insiste no mesmo. De facto, e sem considerarmos questões relativas ao funcionamento da língua, temos, entre enfado e bocejos dos alunos, no nono ano de escolaridade, as seguintes obras de leitura obrigatória: Os Lusíadas de Camões e O Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, tudo do século XVI.

OS GIRASSÓIS DE SAIGÃO

Cheguei a Saigão, que hoje já não se chama assim. Hoje é Ho Chi Minh. Cidade com o nome do fundador do moderno Vietname. Lembro-me e recorro ao nome Saigão à luz daquilo que escreveu Marguerite Duras. Nos tempos da presença francesa, uma história de amor n´O Amante.

TRAÇADO GEOMÉTRICO

Um homem caminhava com o guarda-chuva a evitar que as poucas gotas que começavam a cair o molhassem. Caminhava envergando um sobretudo azul escuro e com o pensamento em coisas urgentes que o levavam ao destino. Debaixo do sobretudo um fato, impecavelmente limpo a seco. Na rua onde caminhava viam-se desenhados em cubos claros e escuros coisas várias que podiam fazer viajar a nossa imaginação.

DA LINGUAGEM UNIVERSAL AO NASCIMENTO DA PROSA POÉTICA

A artista plástica Felippa Lobato apresenta o seu livro “Fios de Luz”, uma obra onde os 22 desenhos da autoria de Felippa Lobato inspiraram a escritora Mariana Inverno que fez nascer 22 textos que os acompanham.

PALIMPSESTOS

Há já algum tempo que pretendo escrever sobre as relações transtextuais porque são, a meu ver, a pedra basilar da Literatura, em virtude de possibilitarem o estabelecimento de relações complexas e intrincadas entre os textos. Apesar de ter sumariamente abordado os hipertextos noutra crónica dedicada à Literatura Popular e de ter referido as relações de intertextualidade ainda noutra em que se falava de chapéus, na verdade, não sabia exatamente como introduzir o tema.

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