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A MINHA MÃE

A minha mãe ensinou-me muitas coisas – grande parte delas ainda nem as consegui compreender bem. Sei que um dia o vou fazer e lembrar-me que foi a minha mãe que me as ensinou. – É assim que as mães funcionam e é por isso que são mães. Trazem no regaço as soluções para problemas que ainda nem sequer enfrentámos e, sem nos apercebermos, deixam-nos gestos a lembrar-nos que não existe prazo de validade para a sabedoria que as mães nos deixam.

A PERUCA

Há muitos anos atrás, dezenas deles, não sei bem quantos, mas há muitos mesmo, havia uma loja ali numa rua estreitinha que se chamava a peluqueria. Não era sítio onde se cortasse o cabelo, mas o dono, talvez porque era espanhol, tinha chamado à humilde loja peluqueria. E assim era para que todos vissem e lessem com os seus olhos. Ou melhor, para aqueles que, à época, conseguiam ler. Não eram muitos, mas alguns havia que percebiam as letras e a forma como estas se ordenavam nas palavras e nas frases e nos textos.

CERVANTES E SHAKESPEARE - 400 ANOS DEPOIS

Miguel de Cervantes Saavedra é um autor que desperta curiosidade; poucos existirão, na literatura mundial, que tenham deixado marca tão profunda na literatura e no entanto permaneçam menos conhecidos que o herói que criaram, no caso o “ingenioso Hidaldo D. Quijote de La Mancha”. Esta obra é considerada o primeiro romance moderno e é um clássico da literatura mundial.

A influência desta obra e do trabalho de Cervantes é de tal modo importante que dá nome ao instituto estatal espanhol responsável pela difusão, promoção e ensino da língua espanhola pelo mundo.

AS ONDAS

Arrasada pelas notícias repetidas, caluniosas, degradantes e falsas que saíram nos últimos dias nos jornais acerca dela e do seu desempenho nas funções políticas que desempenhava, Linda refugiou-se no gabinete e olhou vezes sem conta para os excertos dos jornais que a ela diziam respeito. Era tudo tão pesado e agressivo. Uma agressividade nas figuras a cores que ganhava uma cor encarnada como se de sangue se tratasse. Nem um entre todos os jornais continha uma única palavra em que se referissem as suas qualidades, os seus gestos, a sua obra feita.

VAZIO

Os pensamentos dos homens e das mulheres estão vazios. Não há nada nas caixas nem nas casas onde vivem as pessoas. O mundo é intermitente. Na escolha das palavras são os homens e as mulheres que falham ou acertam, são esses homens e essas mulheres que preenchem os espaços vazios das palavras. São as palavras que preenchem os lugares vazios das pessoas.

CRONISTAS E SUA MISSÃO

“Procura-se um cronista”, li em um jornal rasgado qualquer. O papel estava deteriorado, mas o título era legível. Como veio parar ali? Jamais saberei. O que sei é que nada sei, sem ser filosófico. Procuram um cronista. Procuram alguém para fazer Robin suplantar o Batman e que isso faça sentido. O que desejam é um torcedor do Brasil e da Argentina que ame as duas seleções incondicionalmente. Uma arte da conversação maluca e aberta a amizades, portanto.

O MUNDO PEDE-NOS CALMA

Faz uns tempos lembro-me de ter lido uma lenda dos Cherokee chamada “O conto dos dois lobos”. Não há dia em que eu não descubra lendas dentro do mesmo género e confesso ser uma fã das histórias dos nativo-americanos. A mestria com que nos arrebatam é proporcional á simplicidade das palavras utilizadas para nos dizer algo geralmente bastante profundo. Aquele género de profundo para que nós, pessoas do mundo novo (novo, não melhor), deixámos de ter tempo.- Eu faço questão de fazer esse tempo.

EÇA VISTO PELO INVISÍVEL

Eça de Queirós é, na ótica desse dito escritorzinho com nome de besta, que anda por aí a vaguear nas terras alentejanas, às quais quer à força pertencer, ainda que ocupe um livro a repeli-las, um escritor  “cínico e falso”, palavras do próprio.

Pergunto-me eu, Raposo, onde andaste tu, quando nas minhas aulas do liceu, ou entre um café cujo sabor se imiscuía com as sombras do tabaco no ar, se falava em Literatura? Sim, meu caro, de Literatura! Essa coisa nefasta e repulsiva que anda por aí à espreita das brechas da sociedade para se aproveitar delas… Sacana da Literatura!

52

Cinquenta e duas semanas, cinquenta e dois textos escritos nas linhas de uma folha em branco. Uma vez a descoberta do Myanmar, um país, os caminhos entre lagos e montanhas, entre grutas e templos. Outra vez, os dias a nascer no cimo do monte Ramelau, de onde se vê a passagem de multidões desconhecidas, todas as pessoas na sua singularidade e a tentativa de as desenhar em letras, onde houve sempre algo que nasceu nas curtas frases.

ESCREVO DO QUE ME CORRE NAS VEIAS: O ALENTEJO

Da sua poesia escreve José Luís Peixoto: "Os poemas de Dinis Muacho aspiram à melodia, ao equilíbrio. Possam os seus caminhos cruzarem-se com os olhos de muitos leitores." Falamos como já percebeu de Dinis Muacho, amante da fotografia, do fado, do cante e poeta militante. 

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