A Europa terminou a semana com a notícia do Acordo entre a Grécia e o Eurogrupo. Após dias de intensa negociação e ameaças de algumas soberanias europeias, a Grécia consegue um prolongamento de mais 04 meses, com a condição única de ter de apresentar o seu programa para os próximos anos.
Com este acordo a Grécia consegue duas coisas: mais tempo e a garantia que não serão implementadas mais medidas de austeridade.
Confesso que acompanhei toda esta negociação com alguma expectativa, uma vez que é nestes grandes palcos que se vê quem são os verdadeiros defensores dos interesses do seu País.
A Grécia bateu o pé, insistiu no mais relevante e cedeu onde achou que devia ceder, conseguindo o apoio de grande parte dos países do Eurogrupo ainda antes do início da última reunião.
Quem dificultou este percurso? A já esperada Alemanha, a Espanha e….Portugal.
Mais uma vez o Governo português não teve a coragem necessária para se aliar ao lado que lhe poderia trazer alguns benefícios ao nível do alívio da austeridade.
Numa semana em que o Presidente da Comissão Europeia admitiu novamente que as medidas implementadas em Portugal, na Grécia e no Reino Unido, foram um autêntico ataque à dignidade, o que faz o Governo português?
Nada. Rigorosamente nada. A fugaz reacção que veio por parte do ministro dos negócios estrangeiros rapidamente foi abafada pela declaração do Primeiro-Ministro na Assembleia da República, afirmando que não houve qualquer atentado à dignidade.
Afinal portamo-nos bem e nunca mas nunca contradizemos os mandamentos do nosso amo.
É vergonhoso ver um Governo desperdiçar oportunidades para a negociação da diminuição das medidas de austeridade.
É ainda mais vergonhoso ver um Primeiro-Ministro ter a coragem de dizer aos milhares de desempregados e de famílias em dificuldades económicas que não houve qualquer ataque à dignidade.
Afinal, a despesa continua sem sofrer cortes onde deve e os membros do Governo e do Parlamento acabaram por ver os seus salários aumentados.
Também esta semana Lobo Xavier afirmou que quem forçou a entrada da Troika em Portugal e todas as consequências de um memorando de entendimento foram PSD e CDS-PP, uma vez que a própria chanceler alemã “não queria uma intervenção concertada, regulada, com um memorando. Este aparato formal de memorando com regras, promessas e compromissos, tudo medido à lupa”.
Afirma também Lobo Xavier que a entrada da Troika em Portugal foi negociada por um “aprendiz de feiticeiro” – Passos Coelho.
Os mitos criados pelo Governo começam a cair e a ser desmascarados pelos seus próprios apoiantes.
O Governo grego veio mostrar que é possível negociar a sério e conseguir resultados positivos para o seu País. Sem medos mas com a racionalidade de saber ceder onde e quando é necessário.
O escrutínio da Europa sobre as medidas que irão ser tomadas pelo Governo grego era inevitável. Qualquer credor tem o direito de vigiar de perto os movimentos daqueles em quem investe.
No entanto, vigiar é bem diferente de coordenar e mandar, sem olhar a consequências e ao estado de um País.
Portugal continuará um passo atrás enquanto estes aprendizes por cá ficarem, não pelo facto de serem aprendizes mas por não terem a coragem e a competência necessárias para bater o pé e forçar a inserção de medidas necessárias ao desenvolvimento do País.
Certamente esta semana trouxe-nos várias lições.
Resta agora tirar delas todas as ilações.