27 Janeiro 2024      12:05

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Ausência

Permitam-me escrever e falar sobre a ausência. Esta semana estive ausente. Pela primeira vez em muito tempo a ausência apoderou-se da minha caneta e não revelou aquilo que me ocupava as ideias.

A ausência pode ser entendida e definida de várias formas, umas mais simples, outras mais complexas. Nos dicionários comuns a ausência é definida como não estar presente, falta de comparência, carência.

Todas estas definições concorrem para uma concepção comum. A ausência sente-se, quer se queira, quer não. Essa ausência pode ser curta, prolongada ou permanente. Pode ser física ou sentimental. Pode ser tanta coisa e pode reduzir-se a um nada.

Acompanhada de tanta coisa, o que faz disso mesmo um paradoxo, a ausência nunca está sozinha, com ela estão a dor, a sensação de perda, o vazio.

Sentimos a ausência daqueles que mais gostamos quando estão longe, quando não telefonam, quando não se manifestam. Sentimos a ausência dos que nos deixam fisicamente para sempre e agarramo-nos às memórias, voltando a elas incessantemente, procurando com as imagens guardadas em aparelhos e no nosso principal aparelho, o cérebro. Essas imagens ausentes ou nos fazem sorrir ou nos ativam as lágrimas e a solidão e o vazio que a ausência nos causa.

Menos grave e menos profunda será a falta de comparência a uma reunião, a um exame ou a um encontro previamente marcado. Poderá ter consequências graves, mas emocionalmente não tão fortes, nunca, do que a ausência permanente de alguém que fazia parte da nossa vida, parte de nós.

Estar ausente é o contrário de estar presente. Isso já todos sabemos, parece naive, La Palisse, ou até inócuo repetir, mas no fundo para quem está de um e do outro lado, é impactante.

Há, na literatura e na música, tantos exemplos da ausência. É um tema recorrente que nos afeta a todos mas sobre o qual tentamos não pensar.

Outro e para tanta gente o momento em que a ausência se faz sentir é aquele dos que partilham esse sentimento que é o amor. Como sente Bisbal em letra cantada, esta ausência de gelo de pedra e silêncio/que corta as horas sem piedade/esta ausência infinita de noites e dias não tem final/foi tão fácil dizer adeus até um dia/as espinhas cravadas na tua alma e na minha/ esta ausência me grita/que se acabe a vida/porque não voltarás…

E quem já esteve numa das situações mais profundas acima, sente sem dúvida que a ausência do outro corta as horas sem piedade.