O nosso modelo de sociedade tem como base as ideias de John Locke. Este modelo defendia a liberdade intelectual e a tolerância. Locke foi o precursor de muitas ideias liberais, que só floresceram durante o iluminismo francês no século XVII.
Locke criticou a teoria de direito divino dos reis. Para Locke, a soberania não reside no Estado, mas sim na população. O pensador apresenta um pensamento aparentemente simples, mas profundo: «é apenas o pacto com o consentimento de todos que faz com que as pessoas se organizem em uma comunidade política, isto é, há vários pactos que se formam entre as pessoas, mas apenas esse fornece uma fundação válida.»
E neste contexto, Locke pretende definir a liberdade em sociedade, a saber: «submeter-se apenas às leis estabelecidas como resultado desse pacto. Sem o consentimento universal, as leis seriam questionadas, o que representa uma desaprovação da autoridade estabelecida.»
Simplificando, o modelo de sociedade que hoje vivemos tem este principio assente nas liberdades. Por isso, hoje denominamos a União Europeia como um verdadeiro modelo liberal. Modelo, este, que acredito que a grande maioria dos europeus acreditam com toda a convicção.
Aliás, as sociedades denominadas de «ocidentais» têm como baste estes valores. Em termos abstratos, as democracias liberais contemporâneas têm como pilar o sufrágio igual e universal e o uso da deliberação como racionalidade na fundamentação do conceito de razão pública, considerado como primeiros passos para a realização de uma sociedade que possa acomodar a pluralidade de conceções de bem.
Apesar desta ideia de sociedade, vão proliferando por todos os lados grupos e partidos políticos que são contrários a este modelo. Todas as suas ideias assentam nos medos, na falta de escrúpulos de muitos políticos e no discurso do ódio.
Estou convencido que, mais do que nunca, esta vai ser a grande abordagem nas próximas eleições, mas também nas eleições europeias.
Esta abordagem dos países não democráticos, autocráticos, contra o modelo liberal de sociedade, está a ganhar força por todo o lado. Dentro e fora da Europa. Foi assim na segunda grande guerra mundial. As autocracias colocaram em causa as democracias. Deu no que deu!
Note-se que segundo a Freedom House, «As democracias liberais no mundo, em comparação com outros regimes menos livres, estão em minoria e caíram de 89 países (46,4%), em 2003, para 83 (42,6%) em 2022»
Tudo isto está a ser posto em causa. O nosso modelo de sociedade corre o risco de se perder, caso não o protejamos. Para isso, necessitamos de políticos que falem verdade e que pensem no longo prazo e não apenas na próxima eleição.
Apesar das críticas, acredito plenamente que os modelos liberais são responsáveis por conquistas fundamentais nas democracias contemporâneas. E podem continuar a ser.
Por isso mesmo, está hora dos cidadãos terem uma perceção muito clara do que está a ser posto em causa. A degenerescência informativa é um dos maiores males para as democracias. É fundamental «não perder o norte» no meio deste turbilhão de acontecimentos!