Está aqui

José Carlos Adão

A ameixeira

Neste mesmo dia, durante várias estações e vários anos, no preciso local onde nascera a primeira semente, nasciam três hoje.

A primavera tinha começado há uns dias mas naquele amplo plano, coberto de árvores de fruto, entre as mais jovens e as mais envelhecidas, as árvores sentiam a presença uma das outras mas não falavam entre si.

No meio de todas estas árvores, há muitos anos atrás, entre amendoeiras, cerejeiras, macieiras e pereiras, nascera uma ameixeira.

Um ramo de papoilas de esteva

Era dia de casamento lá na aldeia. Há muito tempo que ninguém casava. A aldeia também parecia que tinha morrido antes de todos os habitantes morrerem.

Infelizmente, assim acontece no sítio a que chamo a minha casa, no lugar onde nasci! Não há jovens que estejam em idade de casar. Antigamente, não sei porque, moços e moças casavam com vizinhos. Tantos casais surgiram nestas aldeias. Terá sido porque não havia ligação com pessoas de mais longe? O que nos faz apaixonar por alguém?

Aplicação

Comprei um aparelho novo que faz chamadas e me permite estar em contacto com todo o mundo e, em algumas situações, com o além (pelo menos é o que aparece escrito na publicidade).

O novo aparelho é commumente designado como telemóvel ou smartphone. Dizem-me que abre portas e janelas e mundos e tudo. Era um modelo não muito moderno, mas seria aquele que me iniciaria na narrativa do mundo dos telemóveis e das coisas que vivem dentro dele.

Essas coisas, aprendi, chamam-se aplicações. Há-de de todo o tipo, para todos os gostos.

O Mú

Hoje não é nenhum dia especial. Muitas coisas certamente terão ocorrido neste dia, em cada um dos anos que antecederam este especificamente e tantos outros dias o sucederão no futuro. Não é dia nenhum, salvo algo aconteça que faça mudar o evento.

Porém, este texto não é sobre o dia 4 de março. Poderia ser, mas não é. É sobre o Mú! Ah…

Entre vós, quem sabe o que é o Mú? Espero pra vossa resposta antes de a escrever aqui neste breve trecho?

Confissão

Confesso que os pensamentos derivam além do leito da minha imaginação e racionalidade. Uma sexta-feira à noite em casa é um momento de pensar na confissão do que foi o resto da semana.

Um pé maior que o outro

Era um sábado. As feiras terminariam pouco depois do meio dia. Tinham começado muito cedo. Ainda o dia não tinha nascido, já o reboliço no lugar da feira começava a mexer. A feira era isso mesmo, tudo a acontecer naquele lugar, o gado a chegar vindo de tantos lugares, tão desconhecido de tanta gente e, sem pretensões, todos se encontravam ali, no mesmo lugar.

Desígnio

A Professora preparava-se nervosa, como se fosse a primeira vez que o fazia, para dar a sua última aula. Tinha passado uma vida inteira e no dia em terminava a sua carreira, parecia estar mais insegura que nunca. Por vezes, nos momentos de glória, o nosso nervosismo ataca-nos e submete a nossa autoconfiança à prova.

Campos de arroz

Escondidos no meio da imensidão que era aquele país, os campos de arroz fecundavam dia após dia. Rodeados de montanhas, descansavam num terreno plano, divididos em parcelas que cada família cuidava. Homens e mulheres passavam os dias com os pés enfiados nas águas que alimentavam os pés de arroz, picados incessantemente por mosquitos de estirpes várias. Umas vezes traziam consigo malária, outras sugavam apenas algumas gotas de sangue. Quase todos tinham já experimentado uma ou outra situação.

A morte

Todos os momentos são propícios a reflexão, sejam eles mais alegres ou mais tristes, mais gratificantes ou mais dolorosos. Ontem, dia 20, só num dia, quatro pessoas amigas e conhecidas, do meu círculo pessoal, partiram para o descanso eterno, como todos nós gostamos de pensar. Imaginar aqueles que mais amamos num lugar belo, conforta-nos e alivia a nossa dor. Alivia, porque essa dor, creio, nunca nos abandona.

Janeiro

O mês tinha começado com um frio moderado. O pior não era o frio em si, mas o vento e a chuva que se fazia sentir no monte. Quando falamos de montes no Alentejo, falamos das casas que se espalham pelas serras ou planícies.

Janeiro não era assim tão diferente dos outros meses, nem o era das outras pessoas a pessoa de quem falamos. É verdade, também se chamava Janeiro o homem que morava no monte.

Páginas