Esta semana faço uma pequena pausa na análise dos programas eleitorais, dada a situação eminente em que a Europa se encontra.
A situação em que se encontra a Grécia é, no mínimo, inédita.
Um País com graves problemas económicos e sociais tem à sua frente (finalmente, diga-se) alguém com coragem de se manter fiel às promessas que fez no seu programa eleitoral.
Tsipras prometeu que não traria mais austeridade para o País, estando a fazer com a Alemanha o mesmo que esta fez há alguns anos: atrasando a decisão final até ao máximo possível.
Após reuniões em Bruxelas com cedências de ambas as partes, existem países credores que continuam a insistir em medidas de austeridade com as quais outros mesmos credores já discordam.
Ao que consta, o Governo grego fez algumas propostas iguais às feitas por Portugal e pelo Reino Unido, sendo que, neste caso, tais propostas foram recusadas.
O motivo? O Governo grego recusa-se apenas a acenar que sim numa subserviência que poderia vir a prejudicar gravemente o País.
Este é um Governo que está a cumprir verdadeiramente o programa eleitoral para o qual foi eleito, custe o que custar.
Nos últimos dias, face à constante pressão feita pelos credores e à inevitabilidade de tomar medidas de austeridade que jurou não tomar, Tsipras convocou um referendo para ouvir a população.
Isto é, mesmo não concordando com as medidas impostas pelos credores, Tsipras quer ouvir as pessoas que o elegeram relativamente ao futuro que querem para o seu País.
Qual foi a resposta imediata do Eurogrupo? Recusa, sem qualquer possibilidade de acordo.
Noutras palavras, o Eurogrupo recusa-se a, democraticamente, ouvir a população de um Estado que representa e que deveria defender.
Por sua vez, o Governo português continua a insistir na imagem de bom aluno, curvado e subserviente, criticando uma posição que ele próprio deveria ter tomado.
Todos sabemos que os tempos que a Grécia atravessa não são de todo fáceis. Muito provavelmente, caso este impasse continue, a Grécia terá que sair do Euro, com todos os custos e consequências que daí resultem, nomeadamente em termos de custos de emissão de moeda.
Provavelmente serão tempos negros. No entanto temos já possíveis acordos com a Rússia que poderão acelerar um pouco o sucesso da situação.
No meio de todo este emaranhado, qual a imagem que fica da Europa?
O que diriam hoje os seus fundadores?
Será que deixariam tudo nas mãos de dois ou três credores que querem políticas cegas e sem conhecimento da real situação do País ou optariam por regressar a uma verdadeira União entre Estados?
Mesmo dentro da Europa, temos bons exemplos de sucesso sem recurso a chantagens quase ditatoriais e temos exemplos de políticas de austeridade que fracassaram e levaram os países a graves recessões.
Se, ao invés de subserviência, os Estados mais pequenos se juntassem e fincassem o pé, talvez fosse possível fazer um pouco mais de pressão perante os credores e obter mais algumas cedências dos mesmos.
Até lá, teremos o mesmo de sempre: o império de dois ou três estados sobre toda a restante união.
Até lá, ou pelo menos até surgirem mais políticos com a voz e a crença nos seus Países a que temos assistido por parte da Grécia.