11 Setembro 2018      12:34

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Não ruíram só as Torres

Já passaram 17 anos desde os atentados às Torres Gémeas em Nova Iorque e o tema continua a ser motivo de debate, de controvérsia, de incerteza e de fantasma de insegurança, com razão umas vezes, por conveniência por outras. Não ruiram só as Torres.

Era ainda um jovem universitário a fazer zapping compulsivo e na tentativa de encontrar uma desculpa para não pegar nos livros quando – passavam uns minutos das 9:03h em Nova Iorque, 14:03h em Portugal – ao ver um pasmado José Rodrigues dos Santos, paro na RTP1 e vejo um jornalista experiente - cujas primeiras memórias me enviam para a Guerra no Golfo, estando, como tal, habituado a cenários difíceis – atónito, a tentar explicar o que estava a acontecer nas imagens que se viam em direto dos Estados Unidos.

Não passaram muitos minutos e a sua perplexidade aumenta ao vermos em direto o embater de um segundo avião noutra torre do WTC.

Eram já 9:37h locais, já todos os canais transmitiam em direto as imagens da torre norte do WTC a arder e o embate com a torre sul do WTC do avião do voo 175 da United Airlines – levantou de Boston e rumava a Los Angeles, tal como o primeiro avião. A bordo seguiam 9 membros da tripulação e 56 passageiros, 5 deles terroristas.

Um outro avião, o voo 77 da American Airlines, também com rumo a Los Angeles, colidiu com as instalações do Pentágono, na Virgínia. Uma vez mais, a bordo estavam 5 sequestradores que eram parte de 58 passageiros aos que se juntavam mais 6 membros da tripulação.

11 de setembro deixou de ser só mais um dia. A 11 de setembro de 2001, o inesperado aconteceu e, em breves minutos, o mundo mudava.

O 11 de setembro de 2001 traria para a realidade de todos nós nomes como Osama Bin Laden, Al-Qaeda, Wall Trade Center (WTC) e pior, uma nova realidade que desejávamos não conhecer: a ameaça terrorista à escala global que, em qualquer lugar, a qualquer momento, pode ameaçar a nossa vida e os pilares da nossa sociedade.

Um quarto avião sequestrado, o do voo 93 da United Airlines e que seguia para S. Francisco, levava sete membros da tripulação e 33 passageiros. Estes 40 corajosos, aperceberam-se do que estava a acontecer e revoltaram-se contra os 4 sequestradores a bordo, provocando que o avião se despenhasse numa floresta de Shanksville, no estado de Pensilvânia, às 10:03h locais.

No WTC, quando se deu o primeiro embate, estavam cerca de 17 400 civis segundo o NIST (Instituto Norte-americano de Estatística e Tecnologia). No conjunto dos atentados deste dia morreram 2 996 mortes, 19 deles terroristas.

Com o passar dos anos, o número de vítimas mortais com causas nestes atentados viria a aumentar devido á exposição a poeiras e inúmeros produtos cancerígenas libertados naquele dia.

Surgiram inúmeras teorias de conspiração sobre estes atentados e que levantavam muitos factos e dados suspeitos, essencialmente após aberta a possibilidade de serem ouvidas as gravações referentes a este dia e que levantaram algumas suspeitas.

Muitos acusam o então presidente George W. Bush por ter provocado este “atentado” de modo a poder ter uma justificação plausível para invadir o Iraque e intervir no Afeganistão e Paquistão – o que veio a acontecer após a célebre cimeira nos Açores com Blair, Aznar e Durão Barroso - e combater Ossama Bin Laden e a sua organização terrorista Al-Qaeda - que haviam reivindicado os atentados.

Depois disso e de uma invasão no Iraque, dois anos depois, em 2003, e que se sabe hoje que partiu de uma suspeita de armas químicas infundada.

Leis, como o “Patriot Act”, nos EUA, surgiram e atingiram a privacidade do cidadão – surge a dicotomia Liberdade vs. Segurança – e este “Patriot act”, entre muitas outras coisas, permitia e legalizava aos serviços de inteligência do EUA e forças de segurança intercetarem chamadas telefónicas e e-mails de organizações e pessoas de quem houvesse a mínima suspeita de estarem envolvidas em atos de terrorismo, sem qualquer necessidade de autorização da Justiça, e fossem essas pessoas estrangeiras ou americanas.

Com esta lei por base, foi criada a prisão de Guantánamo e uma extensa rede de transporte ilegal de terroristas do Médio Oriente, com Portugal envolvido.

O “Patriot Act” viria a durar até a administração de Barack Obama, já em 2015.

Pelo meio também Edward Snowden, ex-membro da CIA, e que foi acusado de espionagem por dar a conhecer ao público informações sigilosas de segurança dos Estados Unidos e revelar detalhes dos programas de vigilância que o país usava para espionar a população norte-americana e mundial com recurso ao Google, à Apple e ao Facebook. O assunto criou uma grave crise diplomática aos EUA.

Parte das promessas eleitorais de Obama estavam relacionadas com o fecho de Guantánamo e a saída das tropas americanas do Médio Oriente e Ásia; o Senado norte-americano, onde os lobbies se movem como peixe na água, não o permitiam.

Dezassete anos depois – depois de uma segunda Guerra no Golfo, inúmeras guerras e revoluções no Médio Oriente, milhares de milhões de euros gastos, depois de muitas leis que restringiram a liberdade e a privacidade dos cidadãos (por vezes fazendo lembrar o mítico “1984” de George Orwell) depois de Madrid, Londres, Paris, Bruxelas, Síria e uma lista infindável de sítios espalhados por todos os continentes do globo, depois de milhares de mortes de inocentes – Quais as razões para isto? Está o mundo mais seguro?

Talvez não. Talvez este acontecimento tenha servido para o surgimento dos Trumps deste mundo, para o limpar o pó das velhas armas, recuperar velhos inimigos, velhas divisões. “To make America great again” - uma frase usada pelo Klu Klux Klan - não deveria significar isolamento e protecionismo, nacionalismo exacerbados e rompimento de acordos e de relações com velhos parceiros de sempre. A verdade já não é uma certeza; todos os dias se torna mais difícil discernir o que acontece do que se diz que aconteceu, e sobre o tem, recordo umas declarações de Trump, numa manifestação no Alabama, em 2015, e que não visavam nada mais a não ser acicatar os ânimos, avivar racismos, apontar espingardas:  “Eu assisti ao momento em que o World Trade Center caiu e assisti a isso em Nova Jérsia, onde milhares e milhares de pessoas estavam a festejar quando o edifício veio abaixo.”

Não contente, repetiu-as na TV, na ABC News, e disse que esses festejos tinham acontecido em zonas de Nova Jérsia onde existem vários focos populacionais de ascendência árabe. Mais tarde, de acordo com o The Independent, as acusações foram negadas pelo governador de Nova Jérsia, Steven Fulop, e pela polícia.

Certezas só uma: o mundo mudou, e não para melhor!

Não ruiram só as Torres; com os pilares do Wall Trade Center, ruíram também alguns princípios democráticos. Ao terrorismo e fanatismo junta-se agora o perigo do populismo, dos pseudo salvadores da pátria, como já o foi Hitler e tantos outros.

Dezassete anos depois, não só se vê ainda fumo em Nova Iorque como se espalhou perigosamente pelo mundo.

 

Imagem de agenciabrasil.ebc.com.br