Quando eu era pequenino, a minha avó e os meus pais e as pessoas mais velhas contavam-me muitas histórias.
Todas as noites, perto da lareira, criavam e descreviam mundos e lugares tão maravilhosos e tão aterradores que até hoje não me esqueci deles.
Quando eu era pequenino, não conhecia mais do mundo além daquilo que já tinha visto. As minhas viagens à vila, aos montes o redor. Porém todo o mundo era muito confortável. Desconhecia as guerras, os conflitos, os problemas que surgem das ideias e ambições diferentes das pessoas. Hoje sei que todos esses existem. Todos esses constituem um mundo que é o real, encoberto tantas vezes na nossa vontade de que não exista.
As histórias ajudaram-me a pensar que vivia noutros lugares, now imaginários. Nestes reais, por aquilo que sei, não gostaria de ser protagonista. Prefiro ser personagem secundária ou figurante.
Tal como no passado, ao fechar os olhos recordo as fábulas, as pequenas histórias com moral. Talvez num reino distante, talvez cavaleiro andante.
Lembro-me ainda de me contarem as histórias que eram tão convincentes e eu parecia estar lá dentro. Tantas vezes as revivi e sonhei nos primeiros momentos do sono. As histórias, atrevo-me a dizer, tornam-nos seres humanos melhores. Mostram aquilo de bom a que podemos aspirar. Ser protagonistas de uma história que tem um final. E que esse final é aquele que ambicionamos. Nem sempre assim acontece.
Quando eu era pequenino, as histórias que me contavam eram tão distantes e tão próximas de mim, mas ao mesmo tempo eu, naqueles imberbes anos, transformava as mesmas e era eu quem eventualmente as terminaria.
Falaram-me dos medos, dos ouros, das expectativas. Contaram-me coisas banais que eram tão intensas e que nunca as perceberia na altura, mas percebo hoje.
Se eu não fosse pequenino, e se me contassem as histórias hoje, as mesmas ficariam guardadas na memória. As mesmas tenho registadas em todo o lado…
Ah, se todos os líderes tivessem ouvido histórias… as lições, a felicidade.
Hoje, no Dia Mundial da Língua Portuguesa, acima de tudo, é importante saber que as histórias são contadas numa língua. E, talvez, essa língua seja a nossa, esta em que escrevo!
Não me alongarei muito mais, mas podia escrever, na nossa língua linda que tem tanta diversidade, e que vive e se reinventa, todos os dias no mundo todo, em todos os continentes.
Para mim, daquelas que conheço, o português é a língua mais bonita do mundo. Não que as outras sejam feias ou que lhes falte expressão!
Contudo, a nossa, esta que partilhamos em todos os continentes (sim, acredito que no Ártico e na Antártica também há falantes de português), é especial.
E especial porque foram as primeiras palavras que ouvimos e porque nelas ouvimos as histórias que nos moldaram!
Viver é construir uma história! Todos os dias construímos uma diferente. Quero que a minha seja boa, senão razoável…