Há 20 anos

Se pensamos na vida, muitas vezes pensamos no passado, primeiro do que pensamos no presente ou no futuro.

Nem em todos os casos é assim. Com as devidas variações, todos nós pensamos nalgum momento da nossa vida. Alguns pensam mais nas suas e outros pensam mais nas dos outros. Pensar é um ato humano normal, que se repete e acontece naturalmente. Outros atos normais nos seres humanos são a alegria e a tristeza. Outro, ainda, normal, é a dor. E essa custa uma enormidade maior do que todas as outras emoções.

A dor em nós é incomensurável, mas a dor nossa e daqueles que amamos, é muito maior e propaga-se quando a sentimos em simultâneo.

Falar de alegria faz-nos sorrir e dá-nos paz interior. Quem me dera que todos sentíssemos uma alegria continua todos os dias! Isso significaria que não havia hospitais com doentes, que não havia funerárias a fazer funerais e as pessoas viviam até que alguém determinasse o momento da partida.

Infelizmente, a realidade não é assim. E hoje eu, pessoalmente, encaro a dor de frente, como tantos. A saúde de quem amamos escasseia. Por não termos condições de os curar e acarinhar nem receber, devemos sofrer longe deles a maior parte do tempo.

Esperamos, em cada sorriso partilhado num visita, em cada lágrima de emoção, saber que estamos juntos, que esta distância temporária é física e o amor é eterno, que a dor do sofrimento partilhado se transforma em amor! Em força e que em cada momento, cada família que passa pelo mesmo sabe que a recordação da nossa vida há 20 anos atrás pode, de alguma forma, relembrar dos sorrisos e da alegria!

Há 20 anos atrás, éramos felizes e não pensávamos nos dias de hoje.

Daqui a 20 anos, aqueles a quem demos carinho e tratamos, esperamos que nos retribuam, neste ciclo humano que desde os primórdios aprendemos. Nascemos, vivemos, e morremos, mas cuidamos uns dos outros. Deixamos aquilo que inventamos para o próximo. Ele saberá fazer melhor que nós. As invenções serão melhores, tudo será melhor. Assim gostaria que fosse o pensamento, mas ainda mais que fosse o de que se há 20 anos eu tive carinho, deram-me condições para chegar aqui, construíram pontes e tudo o que nos faz humanos e pessoas de futuro, então:

Há 20 anos era assim e daqui a 80 será igual!