No Alentejo não há neve. Nevou há muitos anos, a 29 de janeiro de 2006. Toda a gente se lembra desse dia. Eu, especialmente, não me recordo. Estava em Timor nesse dia, fiquei a saber pela televisão e pelo telefone com os meus pais.
Estamos em tempos de inverno, e embora não neve no Alentejo, há dias mais frios que se notam e que, principalmente nos ribeiros e nos vales, caem e deixam um manto branco que parece mas não é. Trata-se do orvalho que durante a noite se acumula e se transforma em gelo.
Há certos países em que o nosso coração gela em flocos de neve e outros em que a geada nos aprisiona. Verdade é que as nossas emoções estão intimamente ligadas aos estados do tempo. Se o calor nos incomoda, o frio não nos dá descanso e andamos sempre neste vai não vai.
A geada só aparece nos lugares mais baixos ou mais altos, talvez, onde o sol não bate. E quando o sol bate, a geada foge e volta ao seu estado líquido.
Porém, este texto é um momento de introspecção que todos podemos fazer no final do inverno, ou a meio do mesmo, ou até no início da primavera. No verão havemos de nos queixar do calor, da humidade, do desconforto. Agora queixamo-nos do frio, da geada, da neve, do gelo. As temperaturas são sempre cruciais na nossa mente.
A marmota, Phil, diz-nos que não viu a sua sombra e, logo, o inverno vai ser curto. Não sei se é verdade. As falhas de previsão nos últimos anos têm sido imensas, mas os serviços de meteorologia também se enganam.
Sabemos bem que há geada ou há neve quando saímos de casa e vemos o manto branco, algo imperial. Adaptamos o vestuário nesses dias à temperatura.
No verão, sentimos saudades do inverno e do frio e, embora adoremos a falta de camadas e camadas de roupa, sentimos a saudade da beleza imperial do frio que nos torna vulneráveis e nos lembra a passagem do tempo.
Amanhã, antes de os primeiros raios de sol esconderem a geada, lembrei-vos da neve que cai em alguns sítios e que se transforma em água quando derrete. Lembrai-vos de quem vive só em climas quentes e quem vive só em climas frios.
Entre a geada e a neve há muito tempo para pensar e as duas não se cruzam.