1 Janeiro 2022      12:30

Está aqui

O fim e o início

Hoje é o dia a seguir ao de ontem e aquele antes de amanhã. Hoje é também o primeiro dia do ano. O dia em que escrevo estas palavras é o dia de ontem, o último dia do ano.

Decidi chamar a esta crónica o fim e o início. Fim porque termina um ano, cheio, repleto de acontecimentos. Uns terão sido bons, outros menos bons, muitos maus e até, diria, partilhando a experiência de muitos, péssimos. Foram momentos e acontecimentos que ficam registados na memória dos tempos, nos registos dos homens e nas coisas que se gravam em fotografias, em vídeos e em qualquer outro modo de recordar.

Podia ter simplesmente ter escrito o velho e o novo. O ano velho que agora termina, ou já terminou, e o ano novo que agora começa, ou que já começou. Não o fiz.

Vamos por partes. O fim é o do ano de 2021. Termina agora. Passei por ele com a intensidade com que vivi os outros 41 antes dele. Momentos bons, momentos felizes, momentos de angústia e tristeza, como certamente todos vós testemunhastes. Houve algo que, durante todo o ano, me acompanhou, como certamente a todos vós, ou à maioria - uma máscara. Descartável, de pano, enfeitada ou discreta, mas sempre presente, lembrando-nos da fragilidade do tempo e do nosso próprio ser.

Assim foi o ano, que se moldou e nos fez a ele moldar, nas consistências e inconsistências das variáveis. Tentei, como certamente todos, viver a vida ao máximo. Tentei, como certamente todos, esquecer o ano anterior, aquele em que primeiro nos moldámos.

A vida continua. Assim é. No início e no fim. Em qualquer circunstância. Refletir sobre o fim é perspectivar o início. Será 2022 melhor do que este que agora termina. Serão os nossos planos realizados na sua plenitude? Não sou vidente, nem posso fazer previsões. Sei, porém, pela experiência adquirida que é importante ter a consciência do início, levando as experiências do fim.

Se aprendi algo este ano? Aprendi a preservar o que de melhor há em nós. Aprendi a compreender um pouco mais a forma como nos pensamos. Aprendi que, quando achava que tudo estava quase no fim e que a forma de encarar uma pandemia me deixaria passar ao início, quase a descartar as máscaras descartáveis, o vírus apanhou-me de surpresa e deixou-me a refletir e ponderar, em casa, durante quase duas semanas.

Se aprendi algo? Aprendi que no fim, juntamos o que cada dia nos deu. No fim, construímos conhecimento e partilhamos com todos e outros e aqueles que o aceitam e nos aceitam. Aprendi que a moderação é um sábio conselho e que menosprezar pequenos aspetos de um todo complexo pode trazer um fim que não será certamente o caminho para o início. Todavia, o que interessa é o início que hoje principia. Um do um. O primeiro de 365. E assim terminamos mais um ano de crónicas, onde tentei construir uma narrativa, alicerces de um edifício com pensamentos estruturados, avaliados por fiscais, reformulados por engenheiros e legado para historiadores ou críticos, mas sempre escritos por mim, do início ao fim.