Um total de 36 fotografias do fotojornalista Alfredo Cunha que mostram “o olhar de quem era criança no 25 de Abril” de 1974 vai estar exposto em Évora, a partir de 16 de março.
A mostra, intitulada “O Tempo de Todas as Perguntas”, com inauguração marcada para o dia 16 de março, poderá ser visitada até outubro, no Centro de Arte e Cultura (CAC) da Fundação Eugénio de Almeida (FEA).
Em comunicado, a FEA explicou que a iniciativa tem curadoria de Patrícia Reis e “conta uma história da década de 1970, através de 36 fotografias, todas elas com um traço comum: o olhar de quem era criança no 25 de Abril”.
O conjunto de fotografias, que resgata imagens do arquivo pessoal da década de 1970 do fotojornalista, algumas delas inéditas, oferece “um verdadeiro retrato social do país à época” e pretende levar o público a questionar-se acerca do “caminho percorrido nas últimas cinco décadas”.
“São imagens que fazem refletir sobre as condições em que vivíamos, como nos expressávamos, o que vestíamos – no fundo, quem éramos nós, portugueses, então”, realçou a fundação.
De acordo com a entidade promotora, “além da simples afirmação de factos, os instantes eternizados por Alfredo Cunha proporcionam uma introspeção coletiva, permitindo explorar uma ampla gama de questões e reforçando a necessidade de reconhecimento e expressão” da identidade cultural nacional.
Para Alfredo Cunha, cujo trabalho já foi “premiado por diversas vezes” no país e no estrangeiro, a sua curiosidade foi sempre “saber a história das pessoas, nunca se tratou apenas de fotografia”.
“As histórias das pessoas são o mais importante. As pessoas são o mais importante. Tal como nesta exposição, que tem uma perspetiva infantil, mas profundamente humanista”, afirmou o fotógrafo em entrevista à curadora Patrícia Reis, para o catálogo da mostra.
No que respeita às crianças fotografadas, Alfredo Cunha frisou que foi “mais do que só o fotógrafo”.
“Era amigo deles e, mais tarde, o fotógrafo que se interessava pelo modo como viviam, como já trabalhavam”, assinalou.
Segundo Patrícia Reis, igualmente citada no comunicado da FEA, a exposição “O Tempo de Todas as Perguntas” quer mostrar a “sensibilidade especial” deste fotojornalista que, “como poucos, fotografa a portugalidade com o princípio ético de não a mascarar”.
“As fotografias de Alfredo Cunha têm o poder maravilhoso de me incomodar, de me fazer pensar, de criar perguntas para as quais não sei se tenho – ou se será possível encontrar – uma resposta. O seu trabalho desafia-me sempre. O seu olhar sobre a infância é genuíno, tradutor de uma verdade não expressa, mas latente, sensorial”, argumentou a curadora.
Esta iniciativa constitui “um dos pontos altos” da programação para este ano do Centro de Arte e Cultura da FEA, que é marcada pelo duplo signo da liberdade e da esperança.
Natural de Celorico da Beira (Guarda), onde nasceu em 1953, Alfredo Cunha iniciou, em 1970, a carreira profissional em fotografia publicitária e comercial, estreando-se, no ano seguinte, como fotojornalista no jornal Notícias da Amadora.
Colaborou com os jornais O Século e O Século Ilustrado, a revista Vida Mundial, a Agência Noticiosa Portuguesa – ANOP e as agências Notícias de Portugal e Lusa. Foi também editor fotográfico do jornal Público e fotógrafo e editor do Jornal de Notícias, entre outros jornais e revistas, e, atualmente, é ‘freelancer’ e desenvolve vários projetos editoriais.
Foi fotógrafo oficial dos presidentes da República Ramalho Eanes e Mário Soares e recebeu a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique.
Fonte: Lusa
Imagem de Mário Santos | CM Maia