20 Julho 2018      14:02

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Best Friends Forever, o fim “Ato 24”

Esta semana assistimos a um corrupio de cimeiras mundiais multilaterais e bilaterais que se podem entender como respostas e contrarrespostas umas às outras. A cimeira multilateral da NATO (ou cimeira bilateral Trump/Nato) e as cimeiras bilaterais Trump/Putin que teve as respostas condizentes nas cimeiras promovidas pela União Europeia, primeiro com a China e depois com o Japão.

Antes de assumir que este é um assunto muito sério, fez-me lembrar as relações normalmente tempestuosas da minha filha com as suas amigas que se autointitulam BFF’s (best friends forever) ou seja melhores amigas para sempre! Para quem assiste de forma próxima e interessada, mas ainda assim, de fora, esta relação multilateral entre amigas, que se conhecem quase desde que nasceram, sofre alterações fortes de semana para semana, mas, no final do dia fazem sempre as pazes. Mas, importa ter em atenção que elas têm 10 anos de idade e não centenas de anos como as nações envolvidas nestas demonstrações de aparente ciumeira cruzada.

Já varias vezes escrevi sobre o monumental perigo que é Donald Trump para o seu país e para o mundo e a cada semana que passa as minhas piores expectativas são sendo sucessivamente ultrapassadas. A sua resiliência no disparate só encontra paralelo na de Passos Coelho quando aguentou, naquele verão quente, um governo que já ninguém queria.

Quando o Presidente dos Estados Unidos, numa famosa cimeira do G7, aprofundou a ideia que tem sobre os princípios do isolacionismo ou a ideia de que “nós fazemos sozinhos” lembrei-me logo que este estado de coisas era uma enorme oportunidade para a União Europeia fazer duas coisas: a primeira é ter bem definido um vilão externo para conseguir fazer crescer a coesão interna e a sua autonomia em termos de defesa; e a segunda seria liderar um processo de multilateralismo sem os Estados Unidos.

Um dos problemas a este plano virtuoso reside nalguma fragilidade da própria União considerando desconfianças internas sobre politicas fundamentais (imigração, defesa, moeda única, etc…) e o momento conturbado de mudança estrutural (Brexit) na União. Outro dos problemas é o Presidente dos Estados Unidos que produz pressão direta e errática sobre inúmeros dos atores mundiais o que dificulta o trabalho de quem quer ter uma estratégia contrária.

De qualquer das formas a ação externa da União é a resposta possível e acertada à inenarrável ação do Presidente dos Estados Unidos. A União, e bem, sabe que são os seus amigos e sabe que os Estados Unidos é um dos seus BFF’s mas que neste momento estão de costas voltadas. Se fizermos um paralelismo, em termos temporais, com a minha jovem filha poderemos sempre ser tentados a pensar que daqui a 8 anos estas nações podem voltar à relação de amizade que as tem unido desde que nasceram.

Um dos perigos, ou talvez uma das oportunidades, é que estas novas relações podem ditar novas BFF´s e que os Estados Unidos se possam ver ser amigos e mais isolados do que hoje aparentam querer estar. Agora só temos que pensar que este não é um dos cenários mais perigosos com que o mundo pode vir a ser confrontado nas próximas décadas.

Esta foi, portanto, uma das semanas mais loucas do século XXI em termos de politica externa no quadro dos blocos mundiais. Quando os Estados Unidos se aproximam da Rússia e que a União Europeia se aproxima da China como resposta, estamos conversados.

Nem sei o que diga quando tudo isto acontece na semana em que o mundo comemora os 100 anos do nascimento de Nelson Mandela, o homem que dizia que quem pode odiar mais facilmente pode amar, que ser livre é respeitar e engrandecer a liberdade dos outros e que tudo é impossível até que um homem o faça!

Sim, talvez devesse ter dedicado a maior parte deste texto a falar de Nelson Mandela e não do Presidente dos Estados Unidos. Devia ter destacado mais o homem que uniu uma nação e não do homem que divide nações. Não o fiz também porque a minha filha me obriga, sempre, a criticar o presente com um olhar sobre o futuro e talvez porque, como diz Porfírio Silva, sobre Nelson Mandela poucas palavras, talvez, Obrigado!