26 Junho 2021      12:59

Está aqui

A preguiça

A seguir ao medo, escolhi a preguiça para nos fazer companhia neste fim de semana. Se na semana passada acordei com medo por volta das cinco e meia da manhã, hoje, dia nunca de antes do dia primeiro, acordei com preguiça. Sabem aquela que nos atormenta quando nos deitamos na cama e que não nos deixa sair dela antes do meio dia ou de qualquer hora depois do sol raiar e se sobrepor ao que já estava além do território oval terrestre?

Essa é a sensação de sentir preguiça. E é tanta e tão grande que até não nos deixa levantar o braço ou agarrar no telefone para pesquisar o que se esconde numa simples pesquisa.

Traz-me alguma coisa para beber que tenho sede e estou tão mole que não me apetece mexer o corpo para lá ir agarrar e puxar e tocar. Ajuda-me… estou sonolento e está sensação de não estar a mexer-me sabe-me tão bem quanto o movimento de subir e descer as montanhas russas em sonhos.

A preguiça é um animal. Sublime, tão sublime que os seus gestos e movimentos se prolongam no tempo e se deslizam na natureza, tal como eu gosto de me sentir e tal como gosto de navegar, dentro de uma banheira cheia de sais e onde a água tépida me suscita a preguiça e me faz esquecer o tempo.

A preguiça é um desafio ao tempo. A preguiça vive nos antípodas do tempo que corre apressado e tem horas para tudo. Aqui, neste mundo, nada tem pressa, não há nas horas nada que me obrigue a estar onde a natureza não me obrigue a estar. Se o tempo e os horários que inventaram me obrigam, que me deixem estar… que me deixem como o Pessoa. Que bom é ter liberdade, ter alguma coisa para fazer e não fazer nada… a preguiça é o livre arbítrio e a preguiça é a liberdade.

Tão longo é o caminho que percorremos, ofegantes, profundo e procurando os dinheiros que aspiramos possam melhorar o próximo trecho do caminho que, de novo, percorreremos, ofegantes, profundos e gananciosos. E o fim não existe porque é um ciclo vicioso. Só compreenderemos a azáfama obcecante quando os nossos olhos se fecharem e os outros falarem por nós, enquanto as cinzas voarem ou a terra nos consumir.

Porém não falemos da morte que nos é certa, mas da preguiça boa que escolhemos e que não nos prejudica. Há uma preguiça boa… aquela que nos dá energia e há uma preguiça má que nos prende e suspende.

Esta de que vos falo é a boa, a que navega no limbo do sonho e do ocupado, a que renova os músculos e restabelece a energia. A outra, não conheço.

E, sendo fim de semana, apetece-me abraçar a preguiça e não escrever mais palavras porque imagino que vós não quereis também passar um sábado a ler o telefone ou o computador quando a preguiça vos desafia a uma sesta e a fechar os olhos, em paz, imaginando os lagos e as nuvens e os campos que são verdes e que trazem a paz e a alma e onde o que mais importa são mesmo as pessoas e os afetos.