Uma crónica humorística de Rui Xerez de Sousa
Qual pequeniníssimo Golias, Conan Osiris foi derrotado na terra do gigante David! Dirão: Pumba! É bem feito! Alto e pára o baile!!! Goste-se, ou não, dos dotes de rouxinol (ou da ausência deles) do dito, a verdade é que o singelo artista foi eleito pela nação (ou parte dela) para representar os barões lusitanos ou, pelo menos, os enjeitados! Má escolha!
Terminada a eleição, logo assistimos à costumeira e inconsequente turbamulta que caracteriza o povo português (pode ler-se no International Guide of the Portuguese People and Costumes que este povo, à beira-mar plantado, é composto por gente baixa e raquítica que, após inusitada e pacífica revolução, teimou em espigar graças a um bem precioso que, por essa altura, surgiu naquela região: a bela da paparoca! Meio saciado, o português insistiu em colocar-se em bicos dos pés na tentativa de alcançar a elevação dos mais nobres povos da Europa.
Este crescimento exponencial [foram registados casos, ainda que raros, de espécimes que atingem quase os dois metros de altura] foi rapidamente contido por uma valente “talochada à la européenne” que é p’aprender!).
Enquanto uns defendiam a genialidade intemporal do artista, outros ofereciam-se para acender a fogueira do escárnio e do desprezo. Partindo do princípio que nem uns, nem outros, estavam correctos, convém assinalar um facto: Conan é Portugal! Inovador mas boçal ao mesmo tempo, humilde mas sem deixar de ser arrogante, tímido mas, porém, audaz, Conan é o representante por excelência da Portugalidade!
A fórmula, diga-se em abono da verdade, é antiga e funcionou no passado. Porém, levar para Israel uma canção que versa sobre telemóveis, é como ir para a Venezuela vender planos de dieta! Ora, os telemóveis servem para quê? Para além das selfies e das belfies (para os que andam a dormir, trata-se da “postagem” da parte posterior, destacando os glúteos), conhecidas fórmulas pós-modernistas para combater a objectificação do corpo, os telemóveis servem para detonar bombas! Isso mesmo! Bombas!
Por essa razão, quando Conan sobe ao palco com exóticos cantos de telemóveis e «quem mata quem, quem mata quem», o terror apoderou-se da audiência. Se a isso juntarmos o facto de Conan ter envergado a cor verde, mais próxima do eterno rival dos Israelitas, a prestação portuguesa no Festival da Eurovisão tinha tudo para ser um falhanço e até, quem sabe, um incidente diplomático! Afinal, os Velhos do Restelo tinham razão e Conan estava destinado ao fracasso! O povo de Israel demonstrou, neste contexto, uma inteligência superior.
Para o Festival da Eurovisão de 2018, que decorreu em Portugal, dedicaram-se a um profundo estudo da cultura portuguesa. Israel não veio para terras lusas, armado ao pingarelho, cantar «sobe-me a renda», gritar «baixem-me o salário» ou «quero um estágio não remunerado». Não! Fizeram-se representar por uma senhora que, com extraordinário talento, diante de um cenário que simbolizava uma loja do chinês, imitava uma galinha e gritava pelo Toy (quem nunca?). A isto chama-se bom senso!
Felizmente, apesar do desaire, a crítica (conhecida espécie migratória que esvoaça para cá e para lá, consoante o vento), que previu a conquista do dito Festival, sobreviveu intacta! Afinal, o que é que o bom do português faz quando a genialidade das suas gentes não é reconhecida? Felicita-se pelo dom de prever o futuro – sendo essa a razão pela qual vive no passado (?!!!) –, na ingrata tarefa de alumiar os povos bárbaros e incultos desse mundo fora. Ainda não foi desta! Mas não se preocupem! Para o ano há mais!
E, se o Festival for organizado na Rússia, podemos sempre concorrer com uma musiquinha, alegre e ligeirinha, sobre anexações e liberdade de imprensa.
Imagem de capa de vip.pt
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