23 Fevereiro 2018      11:20

Está aqui

UM PSD NOVO OU O DO CONGRESSO?

Rui Rio começa de forma muito estranha o seu mandato à frente do seu partido! Digo eu que sou um observador tendencioso, mas gostava de ser criterioso ou de me explicar. Vamos lá:

Antes e durante o congresso, o homem que vinha (vem) para mudar o partido, foi capturado pela obrigatoriedade de fazer da negociação e das cedências o método para construção das listas aos lugares internos! Em momento nenhum, transpareceu aquela ideia de convicção e de força de carater anunciado e, mesmo, propagandeado. No final, o somatório dos consensos conseguidos com Pedro Santana Lopes, não chegou para obter a maioria dos votos para o conselho nacional, teve apenas 65% para a comissão nacional e viu uma das suas escolhas para vice-presidente ser assobiada na subida ao palco!

Na abertura do congresso teve que partilhar (foi obrigado) o palco com um ex-líder que foi mais aplaudido, mais agressivo e mais eloquente (talvez tenha sido porque era a sua despedida) e que lhe deixou um extenso caderno de encargos (“é preciso bater a gerinçonça”). Deve ficar mesmo para memória futura esse discurso de Passos Coelho como uma “lição” ideológica do que é, para ele, o PSD.

Já no seu discurso, Rui Rio referiu e sublinhou que o governo de Passos Coelho foi “chamado” a aplicar “um exigente programa de austeridade desenhado e negociado por outros…”. Não ouviram mal não. O homem esqueceu-se que o acordo com a dita “Troica” foi construído e assinado pelo PS/PSD/CDS e que não foram “chamados”, foram, em liberdade, eleitos com base num programa próprio e com base no tal acordo assinado…

Mais curioso foi o salto de gigante que fez, atribuindo a maior importância às eleições autárquicas de 2021 (nas quais poderá já não ser o líder do PSD) admitindo alguma importância às próximas (europeias e legislativas), mas querendo (julgo que não terá essa hipótese) fazer depender o seu sucesso dos longínquos resultados autárquicos.

Pois é verdade, disse que quer acordos de regime, mas não quer o “regresso do bloco central” e até associou essa questão ao “sexo dos anjos”. Mas, diria eu, que raio acrescenta esta eloquente afirmação à atualidade politica? A resposta é nada pois o próprio PS já tinha dito que não quer o regresso do “Bloco Central”!

Durante a semana as coisas foram-se adensando quando a sua vice-presidente (a assobiada) disse que não se demite mesmo que seja constituída arguida, quando nomeia representantes do partido para negociarem os tais acordos de regime da agenda do governo (fez bem e Portugal agradece), quando o seu candidato a líder parlamentar é eleito com 39% dos votos (dois dos membros da lista não votaram neles próprios) e vem dizer que se sente legitimado porque os votos em branco somados com os votos favoráveis significam 2/3 dos votos (e ainda dizem que a solução do governo é imaginativa…).

Ainda que tenha que classificar esta primeira semana de Rui Rio como politicamente trágica (lembro que passou um mês calado a preparar-se para isto), deixo a nota positiva, como Alentejano, da “eleição” do António Costa da Silva (deputado pelo distrito de Évora), como vice-presidente da bancada parlamentar do PSD.

Imagem de capa de FERNANDO VELUDO/NFACTOS