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Inês Valadas

SOMOS HISTÓRIAS

Acho que em algum momento da minha escala de crescimento e desenvolvimento pessoal, no foro privado dos espaços interiores onde me vou calculando, a parte do meu cérebro que lidava com os “tanto faz”, que não se importava com as conversas de circunstância, que não se incomodava com a maldade mascarada de preocupação e princípios desligou e nunca mais voltou a funcionar. Ou isso ou a sociedade, compreenda-se em todos os seus níveis, conseguiu o excelente talento de retroceder ao avançar. – Devo confessar, compreendo.

JÁ NÃO TENHO MEDO

Quantos anos se vivem até morrer? E quanto é necessário arriscar para viver enquanto se vive? - Estas perguntas têm andado comigo como duas melhores amigas. Sem esperar uma resposta mas em contínuo diálogo. Sem me apressar mas guiando os meus pés pequenos mas de passada segura. Segura hoje. Segura depois. Segura porque diz: já não tenho medo.

Quantos anos se vivem até morrer? - Onde estamos nós enquanto a vida acontece na nossa vida e nós não a vimos acontecer porque a vivemos demais...ou demasiado pouco?

DIAGNOSTICARAM UM TUMOR

Não espere, caro leitor, que este seja um artigo daqueles que o fazem ficar com a lágrima ao canto do olho, tocado e emocionado. Este artigo não é um artigo que o vai deixar a pensar na sua longa vida e nas escolhas mais felizes ou infelizes que tomou. Não procuro, de maneira nenhuma, que tente uma caminhada nos meus sapatos (tenho o pé pequeno, de pouco lhe serviria) ou que me procure com palavras carinhosas. – Eu não sei ser assim e aquilo a que uns chamam falta, eu chamo força. Uma força que é mais personalidade que traço de personalidade.

SILÊNCIO, POR FAVOR

O mundo tornou-se um lugar caótico. – Parece ser uma afirmação simples e sucinta mas diz para além de si e para além de si é para onde nós raramente olhamos. Quando digo “o mundo tornou-se um lugar caótico” não quero dizer só isso, quero também dizer que no mundo custa respirar e custa pensar e custa viver e custa sonhar. Umas seguidas às outras as informações seguem-se, na velocidade de um carrossel desenfreado, não nos permitindo ter tempo para nelas ponderar e para as integrar no que sabemos ou não sabemos ou no que queremos saber.

AOS QUE AINDA PODEM MUDAR O MUNDO

Se não me sinto segura a culpa é da certeza que tenho um futuro a encarar – mostrar a cara ao monstro que sorri faz medo. Porque há, algures, um monstro e porque esse monstro gosta de sorrir quando me encara. Se tenho medo do futuro é porque tenho tempo para pensar no que me vou transformar. No que as minhas mãos, e os meus braços, e as minhas paciências e lutas serão capazes de trazer para o lugar da minha vida. Há, portanto, uma vida, a esperança de uma vida, o medo irracional de tão racionalizado que se transforma quase num direito de ter medo.

INTELECTUAIS DE ALGIBEIRA

A expressão que dá nome a este artigo chegou-me da maneira mais inocente que possam imaginar. Ainda hoje acho que se não me tivesse chegado, tal como as elucidações espontâneas com o seu momento de dúvida (quero com isto de dizer não me ofereçam ainda à forca como habitualmente fazem), olharia com certeza de forma diferente para o que muitos sabem e outros tantos ignoram.

NÃO POSSO E NÃO QUERO SER NICE

É verdade que a cada semana uma nova onda de terror nos assola. Também é verdade que a nossa solidariedade para com as vítimas se faz notar, principalmente nos dias seguintes (principalmente até nos voltarmos a esquecer), em ondas de estupefacção, pedidos de cessar-fogo ou na justa e sempre muito eficaz promessa de violência para com os violentos. – Note-se que, devido a essas promessas e a essa vontade de olho por olho, o mundo é um local realmente mais pacífico hoje.

OS (WANNABE) COOL KIDS

Que seria do meu artigo, caro leitor, se este não se iniciasse com uma confissão? Sim, tenho imensas “culpas no cartório” como é hábito dizer-se, mas delas lavo as minhas mãos com a consciência tranquila de quem tirou esse peso incompreensível das costas. Não se deixe enganar, levei muito tempo a compreendê-lo, em primeiro lugar, e em executá-lo, no segundo. De que me confesso culpada, pergunta?

BIRRENTOS E INSUPORTÁVEIS

Muitas serão as críticas que espero após o artigo que estou prestes a escrever. Talvez daqueles que acham que melhor que eu conhecem aquilo de que vou falar, talvez daqueles que não se apercebem do movimento contínuo da História. Como sempre, englobo-me nesta categoria dos birrentos e insuportáveis, até porque nem poderia ser de outra forma: todos conhecem a Inês na sua terra como a insuportável, irritante rapariguinha que tem que dizer sempre alguma coisa. No entanto são apenas manias de escritor: as palavras jorram, saltam-nos pela boca e depois é tarde para as apanhar. 

QUANTAS VEZES?

Existe, na nossa sociedade atual, um vício admirável pela forma como nos abstemos de o reconhecer enquanto vício. É incrível, se assim o conseguirmos conceber, a forma como acabamos por nos limitar a nós mesmos e aos outros que nos rodeiam e ainda sentir felicidade por isso. Falo hoje de rótulos, caro leitor, e da forma vergonhosa como eles ainda se entranham nos nossos sistemas e na nossa vida e, ainda mais incrível, da forma ignorante como nós os assumimos e os queremos forçar.

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