9 Janeiro 2015      18:11

Está aqui

Moura e o investimento municipal

Moura está ali branca, solarenga, cheia de contrastes próprios do mediterrâneo e com poucos mas bons alentejanos, anfitriãos como não se vê muito, animados ao fim do dia pelo convívio nos cafés e tabernas de uma cidade com 8 000 habitantes, que pertence ao Distrito de Beja. Não será por acaso que o cante alentejano encontre aqui bons intérpretes.

Tal como a maioria das pequenas cidades do interior do país, Moura debate-se com os fenómenos da desertificação e de abandono de gente. Vive o mal de praticamente todo o sul de Portugal continental, um clima semi-árido que ajuda na outra desertificação, a dos solos.

Expectativas da Barragem do Alqueva à parte  - que beneficia do rio Ardila, que alimenta o Guadiana, que alimenta a barragem e que tem muitos bons locais para a pesca - Moura luta como muitas outras lutam de forma desigual com o centrífugo litoral ou com o magnético e abstrato estrangeiro. Por isso o peso ou a relevância da autarquia na vida da comunidade é quase total.

Esta é uma realidade aceite tanto pela comunidade, como pela alguma iniciativa privada que arrisca e investe na região, contando todos com a Câmara Municipal para o que der e vier.

Encontros como aquele que acontecerá dentro de dias (12 a 15 de Janeiro), promovidos pela Câmara Municipal, que trará à cidade o director-adjunto do Expresso, Nicolau Santos, para debater com os empresários, e que incluem uma série de visitas a empresas que ali persistem ou até mesmo algumas que acabam de nascer, chamam a atenção para a forma nuclear que o investimento camarário detém. Traduzido, chamam a atenção para a importância do investimento camarário como fator de dinamização económica local, como refere a comunicação oficial da iniciativa.

Que aproveita também o momento de despertar generalizado para as questões do empreededorismo, fruto de uma nova narrativa europeia pós-crise e do desenho do próximo quadro comunitário de apoio, e lança um centro de acolhimento a microempresas, que vai ser dinamizado por uma empresa municipal, dentro de um Parque Tecnológico.

Embora tenha sido a aversão ao intervencionismo estatal - aversão que muitos julgam ter sido responsável pela austeridade e pelo recuo de direitos sociais sobretudo no sul da europa - que tem governado a Europa, o programa que dela resulta parece ser o de uma economia de planeamento centralizado, mesmo que executada em múltiplos centros.

É difícil compreender se se trata de uma discrepância deliberada entre o discurso e a acção, se uma capitulação ao nosso velho talento de contornar o imposto (não na acepção da taxa) ou se uma adaptação ao perfil mediterrânico, muito vilipendiado pelos nossos vizinhos ricos do norte, mas que necessitam que consumamos mais em 2015.

 Imagens daqui.