12 Outubro 2021      09:49

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Tó Quim Barreto – o alentejano que é ídolo da Ferrari

António Joaquim Borges Barreto, nasceu em Évora a 11 de outubro de 1931. Faria hoje 90 anos.

Para muitos, Tó Quim Barreto pode até mais um nome que passa em branco, no entanto, foi um exemplo de dedicação ao desporto tendo sido, até hoje, o único automobilista português a integrar os quadros da lendária Ferrari.

Desde novo, Tó Quim Barreto, sempre demonstrou ser um verdadeiro entusiasta do desporto e, em especial, da velocidade.

Em 1954 participou na sua primeira prova a VI Volta a Portugal e, mesmo sendo a prova de estreia, o jovem piloto eborense – ao volante de um Porsche 356 - não se inibiu e acabou no primeiro lugar do pódio. Foi a primeira de muitas vitórias.

Após esta vitória, a 6 de dezembro, disse ao Diário de Lisboa: “"Sou estreante. Nunca entrei em provas, se bem que conduzo há bastante tempo. Sinceramente lhe digo: quis avaliar o prazer destas andanças. Não sabia nada disto e não queria deixar de experimentar as sensações que outros volantes têm tido. Agora não desisto mais...". Poucos dias mais tarde, o mesmo jornal viria a referir-se a Tó Quim Barreto da seguinte forma: “O automobilismo nacional conta com um novo valor. Raramente se verifica num estreante feito tão elevado.”

Em 1955, adquire um Ferrari 250 MM (spider Vignale) ao consagrado piloto D. Fernando de Mascarenhas – foi aliás quem ajudou Tó Quim no início da sua carreira - e participa: no Grande Prémio de Portugal – obteve o 7º lugar - disputado no Circuito da Boavista no Porto; no Grande Prémio de Lisboa - 10ª lugar - e na Rampa da Penha em Guimarães - 2º lugar – sendo o primeiro na sua classe, numa prova de Quilómetro de Arranque.

De um Ferrari para outro - o 750 Monza, com carroceria Spider Scagliettispider Scaglietti - corre o Grande Prémio do Porto, chegando ao 4º. Lugar.

Sucesso após sucesso, o sucesso do alentejano não passou despercebido e, nesse mesmo ano, a Ferrari quis integrá-lo nos seus quadros. Tó Quim, numa entrevista a uma revista da especialidade, “O Volante”, confirmava o acordo: "Vou para Itália, onde me demorarei poucos dias, apenas o tempo necessário para alguns treinos na Ferrari. Depois sigo para França onde no dia 23, em Saint-Étienne disputarei uma prova de circuito à qual devem correr todos os "bons" e em que eu correrei oficialmente pela Ferrari."

No entanto, só viria a estrear pela "scuderia dil cavallino rampante " nas Cinco Horas Nocturnas de Phill Hill. Mais tarde, viria a conquistar a Taça dos Novos nas 10 Horas de Messina (Itália).

Sobre esta vitória, Tó Quim revelou, a Borges Barreto, numa entrevista ao “Mundo Desportivo”, em fevereiro de 1957:  “Quando vi subir a nossa bandeira e começaram a tocar a ‘Portuguesa’, não consegui dominar a comoção e chorei, chorei como uma criança. Era Portugal que transbordava no meu coração”,

Quatro meses mais tarde, em nova corrida pela Ferrari, a 30 de maio de 1957 - há 59 anos -nas 2 horas de Forez em Saint-Étienne (França), o Tó Quim Barreto seguia em terceiro lugar quando o seu colega de equipa, Piero Carini, se despistou e embateu violentamente no veículo de Barreto tendo ambos morte imediata.

Contam os relatos que no seu funeral, em Évora, acorreram milhares de pessoas de vários locais, mostra de respeito e da qualidade do piloto alentejano a quem os especialistas do automobilismo internacional auguravam um futuro brilhante.

No livro de pilotos da Ferrari pode ler-se «…Aveva coraggio e passione: e morto a soli 26 anni…» (com coragem e paixão, faleceu com apenas 26 anos).

 

Colaboração especial de Paulo Figueira

Imagem do arquivo da ACP – Porto 1956