4 Dezembro 2022      09:44

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Jerónimo de Sousa, o constituinte

por Alexandre Carvalho

 

Partiu provavelmente o deputado mais conhecido, e como a maioria do país é apolítica, esse conhecimento fraternal é relevante.

Jerónimo de Sousa é de facto o avô da sociedade portuguesa, no sentido figurativo e carinhoso. Devia ter começado por ideologias à parte. Ideologias à parte, Jerónimo de Sousa é um senhor, e uma figura que guarda reconhecimento tanto na política, de diferentes quadrantes, como na sociedade civil, de uma forma muito democrática e paritária. De semblante austero, qual metáfora à clandestinidade do partido, Jerónimo vem de uma zona geográfica muito caraterística do partido, a cintura industrial Loures-Sacavém. Foi operário e líder sindical, as bases do partido, a par do mundo autárquico.

Jerónimo de Sousa esteve 18 anos no cargo de secretário-geral e não se pode imputar-lhe as quedas eleitorais, nem será aqui que dou a minha opinião sobre esse tema, pois bons resultados foram conseguidos na sua era, assim como decisões que hão de imperar nas análises dos historiadores, falo por exemplo da Gerigonça. Apesar de não ser tão icónico quanto foi Álvaro Cunhal, graças à sua produção intelectual, clandestinidade, e imagem cinéfila de fuga às autoridades Salazaristas e aquando do seu regresso no pós 25 de Abril. Contudo era das bases do partido, alguém simples, de discurso fácil e popular, não populista, e por isso muito aclamado por gentes de várias faixas etárias e quadrantes socioeconómicos. Todavia, muitas falhas lhe são imputadas, como um espelho do partido, a sua ortodoxia era marca de uma estabilidade que conferia aos seus parceiros uma garantia de estabilidade no período negocial. A par do núcleo duro do Comité Central, partilha das idiossincrasias internacionais, o grande calcanhar de Aquiles do partido a meu ver, que só servem de anticorpos ao partido e afastam da real importância que pode produzir para o país numa altura de crise e ataques laborais.

No entanto, o PCP surge como um dos únicos partidos comunistas marxistas-leninistas da Europa, e isso é de relevante, talvez pela sua constância ideológica. Por conseguinte, é o partido que ainda guarda muita influência nas escolas e universidades, função pública e serve de salvaguarda a milhares de trabalhadores rurais e industriais.

Por tudo isto, espera-se que a atual liderança refresque a mensagem, se foque no essencial do dia-a-dia que afetam as pessoas, não caindo na espuma dos dias que cobre muito da ideologia identitária dos restantes partidos de esquerda, e que procure sinergias com essas mesmas forças de esquerda pois o futuro augura um grande reforço de uma direita não democrática com consequências para os trabalhadores das bases.

 

Fotografia de sapo.pt

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Alexandre Carvalho tem 24 anos e é natural do Porto. Licenciado em Comunicação Empresarial pelo ISCAP, ligado ao ramo do design de interiores e da vertente digital. Interessado pelo panorama da política nacional conta vir viver para o Alentejo, porque se enamorou por uma alentejana | alexandremiguel.c95@outlook.com