8 Abril 2023      19:51

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Sexta-feira santa

Talvez se tenha tornado um hábito entre as gentes do Alentejo. Ninguém sabe muito bem a que remontam as tradições. Corrijo, talvez se saibam bem as origens e sei que muitos as estudam e chegam a conclusões que explicam, ou tentam explicar.

Falamos deste dia e do respeito que se observa entre as gentes da planície e da montanha. Se nas vilas e nos lugares próximos das igrejas toda a tradição que acompanha o sofrimento de Cristo, na semana santa, é respeitada, nos montes mais distantes da igreja, a vida vive-se com aquilo que potassium de gerações em gerações.

Sei que na semana santa, em todo o mundo, as manifestações de compaixão e de dor, de respeito e de presença cristã são imensas.

Nestes dias, eu mesmo celebrei também, em comunhão com todos aqueles que partilham de uma mesma fé.

Acompanhando o percurso de Cristo, na semana que antecede o seu crucifico e a sua ressurreição, cumprem-se a limpeza do templo, a lavagem dos pés e a última ceia. Na sexta-feira santa, observa-se no Alentejo e não só, a veneração da Cruz, seguindo-se o sábado de Aleluia e o domingo de Ressurreição.

Todo o ritual da paixão de Cristo comove qualquer cristão, seja católico ou de outra crença cristã. O mesmo se aplica a qualquer religião, nos seus rituais, à sua devoção e ao bem que faz aos que seguem.

No sítio onde nasci, acompanhei todo o processo, conheci todos os momentos em que as gentes celebram ou observam esta época Pascal.

Nessa semana, começando no domingo de Ramos, as pessoas juntam-se numa mente coletiva. Não há a tradição na minha terra do compasso Pascal, pelo menos que eu a conheça. Há por outro lado, a observação de não se comer carne na sexta-feira. Nunca, em momento algum devemos comer carne na sexta-feira.

O mesmo se alarga aquele respeito que sempre cumpri e me intrigou. Entre a quinta-feira de tarde e a sexta não se pode cavar no chão. Nem as pucarinhas se podiam apanhar porque isso implicava ir com a pua procurar os precisos tubérculos que tanto gostamos. Entre quinta e sexta-feira santa, em observância da Páscoa, não o fazemos.

O mesmo se refere ao consumo de carne. Dizem no Alentejo que não se pode e que traz má sorte a quem o fizer. u acredito e não como carne na sexta-feira santa. Por todo o mundo, tantos pensam como eu, e assim partilhamos uma fé conjunta.

Acredito em todas as regras e superstições dos meus conterrâneos, dos anteriores e dos atuais. A experiência é o hábito tem me ensinado que a partilha nos ajuda e nos preserva.

E, no próximo ano, ainda que não possa partilhar da celebração da última ceia, da lavagem dos pés, da veneração da Cruz, certamente não cavarei no chão e não comerei carne na sexta-feira santa.