26 Novembro 2023      12:06

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Quando as folhas caem

Por altura do Dia de Ação de Graças, quase todas as folhas já caíram, deixando o chão em tons acastanhados e alaranjados. As árvores, todas elas mais altas do que me sinto, perderam já a folhagem que havia crescido na primavera e agora estavam absolutamente nuas. Toda a floresta se desnudara para receber as neves e o frio do inverno. Muitas vezes imagino se esta renovação é necessária para uma nova fase, como também nos temos de despir das nossas folhas e voltamos a ganhar essa roupagem.

Nesse entretanto, tal como as árvores, atravessamos o frio da realidade e do inverno, as dificuldades, absolutamente despidos e sem os instrumentos que se calhar precisávamos para superar esses dias mais chuvosos e gélidos. Felizmente, como o arvoredo das florestas que agora vejo da minha janela, voltamos a ganhar roupagem nova, verde, alimento da alma e para tantas outras almas ou seres cujo verdadeiro sentido desconhecemos.

Olhando daqui a floresta, as sensações que me transmite não são as mais animadas, mas são as de uma tranquilidade serena, em que a vida ainda existe e sobrevive. Nesta floresta, os pássaros arranjam abrigo e procuram, encontrando, o alimento de que precisam. A sua folhagem, ao contrário das árvores que a perderam, mantém-se e protege-os do frio. Veados, ursos que não hibernaram, esquilos e outros seres, continuam a procurar sobrevir a um frio que a cada dia se torna mais gélido. Muitos dias virão em que não saberão o que é o Sol, aquela entidade que lhes dá a vida. A floresta não morre, adormece. As folhas não desaparecem, simplesmente caem dos ramos que as seguram, adormecem no solo, tornando-se em alimento ao solo, para que renasça e outras folhas completem o ciclo, ano após ano,

Seremos nós humanos como a própria natureza em si, aqueles que, como outros animais, mudamos de pele, hibernamos nos nossos sentimentos, nos nossos acontecimentos pessoais ou em cadeia social. Seremos nós seres humanos que dominamos a natureza, alterando-a, muitas vezes a nosso bel-prazer, sem que no quotidiano nos preocupemos na dinâmica subjacente, a mudar as coisas que são e que acontecem.

Ao contrário das árvores, aumentamos o número de roupa que nos aquece nos dias mais frios e nesses usamos restos das mesmas árvores para nos aquecer. Na primavera, diminuímos a roupa e vestimos roupagem mais alegre. As árvores aumentam a roupa e acrescentam o colorido das flores que, meses depois, em muitos, serão fruta e alimento.

Escusado será dizer e concluir que vivemos ligados à natureza em si, como cordão umbilical. De outra forma não seria. É como uma mãe que tantas vezes magoamos, sem consciência de o fazer. Talvez quando as folhas voltem a cair nos lembremos disto tudo e revivamos o renascimento daquilo que nos aproxima.