18 Outubro 2015      13:49

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PORQUE É QUE OS HUMANOS CONTINUAM A FAZER GUERRAS?

“Qualquer guerra é um sintoma de falência do Homem como animal pensante.” - dizia John Steinbeck, no entanto, o estado de guerra providencia às pessoas um estado de positividade psicológica nas sociedades oprimidas onde faltam outros caminhos para a mudança. Esse estado positivo é tão forte que contagia; de tal modo que os jovens britânicos, atualmente a combater na Síria, sentem eles próprios estar “a lutar pela mesma causa dos camaradas muçulmanos, mas também procuram a preencher a necessidade de se sentirem mais vivos.”

Von Clausewitz disse que “A guerra é a continuação da política por outros meio.” e, em muitos casos, é mesmo isso que se passa: são os governos a começar as guerras e não a população em geral.

As razões são quase sempre disputas territoriais por espaço ou recursos naturais, desejos dos governos em aumentar influência e/ou poder (vejam-se os recentes conflitos na Ucrânia e a questão israelo-palestiniano, por exemplo). Contudo, e olhando para a História, é intrigante que maioria das pessoas deseje participar nas guerras, ou no mínimo, apoia-as.

Steve Taylor, em artigo do The Guardian, fez uma pequena reflexão sobre a incapacidade do ser humano em não ter guerras.

Quando, em 1914, a Grã-Bretanha se juntou à 1ª Guerra, a reação da população, em massa, foi a de celebrar às portas do Buckingham Palace o início do “Estado de Guerra”; e esta “alegria” espalhou-se por toda a Europa. O historiador Alan Bullock, escrevendo sobre a resposta do povo alemão à guerra, descreveu “um sentido de união nacional sem paralelo; aqueles que o viveram nunca esquecerão, um sentido exaltado de patriotismo!” e como representado em “A rapariga que roubava livros” (original The Book Thief), de Markus Zusak, onde podemos ver esta euforia representada nas crianças que corriam pelas ruas alemãs a festejar o início da 2ª Guerra Mundial .

Um antigo psicólogo norte-americano, William James, sugeriu um dia que as guerras continuam a acontecer porque têm um efeito psicológico positivo. Criam uma sensação de unidade face a uma ameaça coletiva. Junta as pessoas, não só os que realmente vão para o campo de batalha, mas toda a comunidade. Trás um sentimento de coesão, com objetivos comuns e inspira o cidadão (não só os soldados) a comportarem-se com honra e altruísmo, em prol de um bem maior.

As guerras dão um propósito e um sentido à vida, transcendem a monotonia do quotidiano. O estado de guerra também trás ao cimo as melhores qualidades humanas, que muitas vezes estão adormecidas na vida normal, como a coragem e o sacrifício pessoal.

Isto parece ser sinónimo de que o ser humano deseja lutar, deseja as guerras porque nos dá uma sensação de bem-estar, gostamos. Desta maneira, é fácil perceber como as ideias de James se podem aplicar a um grande número de soldados britânicos que, nos últimos meses, se voluntariaram para combater na Síria.

Esses jovens, como referido, sentem estar a lutar pela mesma causa dos muçulmanos, mas também em busca desse sentido para a vida de que James fala. Procuram coesão, honra, valores (quase de modo romântico) que serão mais fáceis de atingir na guerra que em casa, na Grã-Bretanha.

Os argumentos de James são os de que o ser humano necessita de encontrar atividades que providenciem o mesmo sentimento psicológico positivo que a guerra, ou, como ele próprio define, “os equivalentes morais da guerra”, mas que não envolvam devastação. Por outras palavras, a Humanidade tem que encontrar alternativas que nos deem a sensação de estarmos vivos, de pertença e de propósito.

Aliás, a necessidade de ser a guerra a preencher estes vazios dirá, por si só, muito sobre as lógicas sociais criadas e o modo como encaramos a vida no quotidiano, as prioridades que damos ao supérfluo e egoísmo social moderno.

Nos países mais desenvolvidos economicamente, a vida é tão rica e variada que há milhões de maneiras de satisfazer essas necessidades, seja pelo desporto, carreiras profissionais, entretenimento ou passatempos. Contudo, noutras partes do mundo, em que a vida é muito mais dura e difícil, onde as pessoas são pobres e vivem oprimidas, e ainda existe uma réstia de esperança (como em Gaza, na Palestina e outras partes de África), é muito mais difícil suprimir as mesmas necessidades a não ser pela guerra.

O estado de guerra pode ser considerado como o um fator que providencia um sentimento psicológico positivo, uma tentativa de viver num “plano superior de poder” (nas palavras de James), com um sentido de propósito e coesão. Se estas necessidades não forem satisfeitas, e se há um opressor ou inimigo óbvio, o estado de guerra torna-se inevitável!

Isto não quer dizer que uma das partes em conflito numa Guerra não tenha uma causa, e este argumento não explora outros fatores sociais e psicológicos importantes e que existem na guerra, tais como a identidade social e moral e a exclusão. Ainda assim, mostra que um estado de paz estável e duradouro depende de criar sociedades com grande a riqueza e a variedade de oportunidades de que o ser humano necessita. O facto de muitas sociedades no mundo não o terem feito, faz com que as perspetivas de paz futura no mundo sejam muito ténues.

 

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