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José Carlos Adão

TERMINAL DE AEROPORTO

Os terminais dos aeroportos são sítios estranhos onde as pessoas se cruzam, olham, ignoram, seguem viagem sem que muitas se voltem a ver. Os terminais dos aeroportos são um sítio de passagem para tantos que anseiam pelo regresso a casa. A permanência de cada um de nós neles resume-se a poucas horas e, em cada movimento dos transeuntes entende-se a extensão da sua demora no terminal. Os passos apressados, as caras preocupadas de quem corre em busca da porta para embarcar e está atrasado para o voo. Os que se passeiam lentamente nos corredores do terminal, esperando que o tempo passe e as horas corram nos ponteiros do relógio. Todos são o terminal. Em cada área, um visor que mostra as horas dos voos, o tempo que falta para anunciar a porta de embarque, através dos grandes vidros, que são paredes, veem-se os aviões que chegam e partem, as suas asas longas em contraste com as pequenas janelas, os símbolos das companhias aéreas que representam o mundo. Num terminal, toda a diferença étnica que caracteriza o ser humano. Todas as pessoas querem chegar ao destino. Todas as pessoas sabem que a sua casa não é ali e que os aviões são parte do percurso de vida, que foram criados pelos Homens para se chegar mais depressa a um qualquer lugar. No futuro, os Homens vão inventar outra coisa para chegarem ainda mais depressa. No terminal, entre produtos que se vendem em lojas que não conseguimos evitar no percurso e em pequenos cafés que acomodam os que esperam durante algum tempo, os minutos vão decrescendo para a hora do voo.

O MENINO E O CROCODILO

No momento em que, à meia-noite, do dia 20 de maio de 2002, o relógio dava doze badaladas, num campo estendido entre três lagoas, ouviam-se os festejos do nascimento. Nascia um novo dia e nascia um novo país. Nesse momento, Kofi Annan declarava a restauração da independência de Timor-Leste. A Oriente, as lágrimas daqueles que lutaram misturavam-se, nos rostos, com os sorrisos do nascimento e, todos, unidos em torno de um ideal, sorriam e choravam, olhando a bandeira que se elevava no ar.

Recordo-me, e gostaria de contar-vos, a propósito da restauração da independência, de uma breve história, com tonalidades de lenda, que me foi contada pela voz envelhecida e sábia de um lian nain. É a história de Timor-Leste e de um menino, nos seus sonhos de crocodilo, partindo em busca do disco dourado que existe no fim do mar. Encontraram-se, nas Celebes, por acaso. O menino descansava à beira de um rio que deslizava para o mar, enquanto observava as maravilhas que o seu olhar conseguia avistar. O menino pensava e sonhava, olhava o Sol que tinha acabado de nascer e pensava que aquele disco, aquele disco dourado era o seu sonho e que um dia iria alcançá-lo. Todos temos sonhos na nossa vida, pensava. Todos os temos e todos os devemos viver. Ambicionar chegar até eles e alcançá-los é um direito nosso e ninguém tem o direito de nos tirar esses sonhos, pensava o menino que, um dia, seria avô, na sua inocência de criança, guarda em si todos os sonhos do mundo como já dizia Pessoa.

ENTRE PARALELOS

A nossa vida, a de todos e de cada um, faz-se entre paralelos. Tudo começa e acaba numa latitude. Toda a nossa existência percorre latitudes, longitudes, paralelos e meridianos. Algumas até desenrolam-se entre trópicos, atravessando a linha do equador uma ou muitas vezes. Cada paralelo, cada ponto longitudinal é diferente do outro. Aliás, cada metro e cada um de nós é diferente. Nunca até hoje vi duas rochas iguais. Nunca até hoje senti que a água passasse duas vezes no mesmo sítio como já os sábios gregos antigos notaram.

O MEDO

Às vítimas de violência xenófoba.

Lee Kwan Yew

O que é um nome?

Quantos nomes existem no mundo?

Podemos ter o mesmo nome, ser gémeos idênticos mas nunca seremos a mesma pessoa.

O que é um nome?

Esta semana dou como título a este texto um nome.

Um nome tonal, um nome oriental. O nome de Singapura. Atrás desse nome esconde-se uma pessoa. Atrás de um nome esconde-se sempre uma pessoa. Por isso, é tão complicado incluir tanto, tantas idiossincrasias, tantas variantes num nome em algo tão reduzido como um nome.

Myanmar

A existência de um país na Ásia chamado Myanmar poderá deixar-nos, nos primeiros instantes, a pensar onde se situa. Tomando o meu caso específico, sempre me referi a este país como Birmânia, entre a Tailândia e a China. Visitei-o há pouco tempo. Não tendo planeado com antecedência e sendo um destino sempre desejado mas considerava-o pouco provável. A surpresa foi, porém, superior às expetativas. Sabia que encontraria templos, grupos étnicos tradicionais e um povo relativamente fechado, dada a sua história e acontecimentos políticos das últimas décadas.

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