8 Agosto 2017      16:41

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HÁ UMA CERVEJA ARTESANAL NO ALENTEJO QUE É MUITO EXCLUSIVA

No mês em que se comemora o dia internacional da cerveja, fomos conhecer uma artesanal particularmente alentejana.

Os portugueses bebem cada mais cerveja e apreciam cada vez mais cerveja, o que não significa necessariamente o mesmo. Os dados indicam que cerca de três milhões de lares consumiram cerveja em casa no último ano, representando 76 por cento deste universo em Portugal. Este produto é consumido maioritariamente por indivíduos entre os 26 e os 45 anos, especialmente do sexo masculino.

E o país também despertou para a produção de cerveja artesanal, com a multiplicação de marcas que rapidamente alcançaram fama e os balcões e as prateleiras de bares, lojas e supermercados. A ameaça à cerveja industrial parece ser séria não fosse o facto das grandes cervejeiras estarem também a lançar no mercado as suas próprias "artesanais" onde se incluiem as IPA. Uma espécie de tentativa de manutenção da "ditadura industrial" como dizem dois cervejeiros artesanais ao ECO e que produzem a serrana Rapada.

E sublinhamos a localidade onde é produzida porque a grande maioria das cervejas artesanais nascem de um forte espírito regional, como se quisessem concentrar em si o sabor, o aroma e a história particular desta ou daquela região. O melhor exemplo que conhecemos vive precisamente desse espírito. Falamos da Keltikia, o nome dado a uma cerveja artesanal de bolota, que nasceu numa terra fértil junto à histórica cidade de Évora, os Canaviais, e que concentra em tom escuro o sabor e o aroma daquela terra alentejana, com a história milenar que o seu próprio nome carrega: Keltikia. Os mestres cervejeiros da Keltikia, Pedro Safara e Nuno Louro contam-nos que o nome advém dos povos que habitavam o Alto-Alentejo pré-romano e que eram fundamentalmente celtas (celtae, keltoi).

Alguns dos celtas que habitavam esta região dedicavam-se ao fabrico da cerveja feita de cevada e outros produtos da terra, que levedavam com pão, de acordo com as antigas receitas de cerveja. 

O pão que os celtas do Alentejo pré-romano comiam era feito de bolota, produto ainda hoje em abundância no Alentejo. O pão de bolota, a cerveja e o Alentejo (Keltika ou Keltikia, terra dos celtas), são marcas distintivas desse período, tudo concentrado neste nome inicialmente estranho mas a que nos habituamos rapidamente.

Para o Pedro e para o Nuno, um desportista e outro engenheiro, a Keltikia "não procura combater nenhuma ditadura" da cerveja industrial mas antes distinguir-se pela qualidade, que é algo a que as pessoas já ligam quando pensam em Alentejo. E não parecem interessados em participar em qualquer competição comercial. Com uma produção deliberadamente limitada de 3 mil garrafas (confessam que fazer cerveja é um ritual metódico) a Keltikia está disponível para os clientes habituais por encomenda e foi avaliada por um juri internacional que lhe atribuiu 7,5 pontos em 10.

Por isso se a encontrar e a puder apreciar, considere-se um sortudo.

Imagem de capa de Carlos Neves.