19 Abril 2024      10:48

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Elvas: Carros militares do 25 de Abril voltam a “viver” Revolução

São 14 veículos militares, ficaram na história a 25 de Abril de 1974 e, após vários anos de abandono, ganharam “uma nova vida”, graças a trabalhos de restauro, missão que vai continuar a ser desenvolvida por uma associação, noticia a agência Lusa.

Para além de ter efetuado trabalhos de manutenção na “Bula”, a célebre chaimite que levou Marcello Caetano do Largo do Carmo para a Pontinha, a Associação Portuguesa de Veículos Militares Antigos (APVMA) tem-se dedicado à recuperação de várias outras viaturas que atualmente estão no Museu Militar de Elvas e que se encontram associadas ao 25 de Abril.

José Manuel Alves, presidente da APVMA, explicou à Lusa que este tem sido um trabalho “muito complexo”, tendo em conta que muitas destas viaturas militares se encontravam paradas há várias décadas.

“As viaturas estavam paradas há mais de 40 anos. Foi muito complexo, por uma razão ou por outra era um monte de ferrugem autêntico, não estavam conservadas, estavam ao ar livre, mas com o recurso a que nós chamamos de canibalização, que é ir retirar peças a viaturas semelhantes e que existam, conseguimos chegar a uma conclusão boa”, afirmou.

A APVMA, que já recuperou 14 viaturas associadas à Revolução dos Cravos, tem feito o seu trabalho de forma gratuita, contribuindo com a mão-de-obra, mas conta com o apoio do Exército português, que assegura o financiamento dos projetos.

O presidente da Associação informou ainda que os 14 veículos recuperados pela APVMA vão fazer parte das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, através da participação numa simulação que tem como objetivo recriar, no dia 24, a saída da Escola Prática de Cavalaria de Santarém em direção a Lisboa e, no dia 27, a chegada dessa mesma coluna a Santarém.

“E vão estar no dia 25 de Abril em Lisboa, desde a tomada do Terreiro do Paço. Vamos ali reconstituir um pouco a chegada da coluna ao Terreiro do Paço, após a cerimónia militar que vai acontecer e depois vamos subir ao Largo do Carmo, cercar o Quartel do Carmo, onde vamos estar até às 16:00 e, a partir daí, vamos à Pontinha, ao posto de Comando do Movimento das Forças Armadas transportar, supostamente, o professor Marcello Caetano na chaimite ‘Bula’”, avançou.

A “Bula”, que tem o nome de uma aldeia situada na Guiné-Bissau, está há seis anos no Museu Militar de Elvas e é vista por muitos como a viatura “mais emblemática” da Revolução.

“A mais emblemática é, sem dúvida, a chaimite “Bula” que só foi beneficiada por nós porque o Exército sempre a manteve em condições, deu algum trabalho com a motorização, por outras razões como qualquer automóvel tem problemas e tem avarias”, considerou.

Vista como “uma estrela” naquele Museu, que foi inaugurado no ano de 2009, a “Bula” vai todos os anos para a rua, de forma a fazer parte das celebrações do 25 de Abril.

O Museu Militar de Elvas, que tem cerca de 100 veículos em exposição, é dirigido pelo coronel Nuno Duarte, que explicou à Lusa que a chaimite “Bula” é sempre alvo de uma “atenção especial” por parte dos visitantes do espaço museológico.

O coronel lembrou também que, na altura em que chegou como aspirante à Escola Prática de Cavalaria de Santarém, Salgueiro Maia, que, naquela época, era major, lhe confessou que “talvez o momento mais difícil” do dia 25 de Abril tenha sido aquele em que foi necessário sair do Largo do Carmo, tendo pela frente um grande grupo de pessoas e, dentro da “Bula”, os ministros que tinham de ser transportados em segurança.

“E disse (Salgueiro Maia para Nuno Duarte): como é que eu vou sair daqui com estes ministros em segurança, eu não posso disparar contra o povo que me está a ajudar a fazer a revolução”, contou.

No entanto, de acordo com Nuno Duarte, a diplomacia “falou mais alto”, o povo “naturalmente afastou-se” e Salgueiro Maia seguiu viagem até ao posto de comando do Movimento das Forças Armadas (MFA), na Pontinha. 

Entre as lembranças e as comemorações da liberdade que chegou ao país há meio século, a APVMA assegura que vai dar continuidade ao seu trabalho no terreno, que consiste em restaurar e recuperar outras viaturas. Um dos próximos desafios é uma Panhard EBR, que também fez parte de Abril de 1974.

 

Fotografia de facebook.com