18 Novembro 2022      14:46

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Beja: Número de pessoas sem-abrigo triplica desde 2020

Desde 2020, o número de pessoas sem-abrigo ou em risco de o serem passou de 88 para 279 em Beja, o que significa que este número mais do que triplicou, segundo a Cáritas Diocesana, citada pela agência Lusa. 

Quem o explicou à agência Lusa foi Maria do Carmo Gonçalves, da Cáritas Diocesana de Beja, que fez uma comparação dos números obtidos através de um levantamento realizado em 2020, altura em que foram sinalizadas 88 pessoas, com os dados mais recentes.

Em setembro de 2021, foi aprovado um projeto da Cáritas de Beja, intitulado “Estou Tão Perto que Não Me Vês”, que tem como objetivo prestar apoio a pessoas sem-abrigo e conta com financiamento de fundos comunitários. Este projeto foi posto em prática no início deste ano, prevendo-se que chegue ao fim em dezembro de 2023.

Foi na sequência deste projeto que foram agora conhecidos os números mais recentes e que demonstram que existem, desde janeiro até este momento, 279 pessoas sinalizadas, um número muito superior ao de 2020.

Este assunto foi alvo de discussão no dia de ontem, quando se realizou, na Biblioteca José Saramago, em Beja, a conferência “Sem-Abrigo – Quais os desafios e o papel dos organismos públicos”, que procurava levar a uma reflexão sobre os desafios que a sociedade e os organismos públicos enfrentam em relação a este tema, sobretudo neste concelho do Alentejo. 

Segundo dados da Cáritas Diocesana, das 279 pessoas sinalizadas, foram já atendidas 252, estando 68 delas a ser acompanhadas de uma forma mais direta.

“Entre a sinalização e o atendimento, algumas pessoas, entretanto, acabam por não aparecer e, depois, há aquelas que vão ficando no projeto, que são estas 68”, explicou Maria do Carmo Gonçalves, coordenadora do projeto “Estou Tão Perto que Não Me Vês”, à agência Lusa.

O que se pretende com este projeto é atender, acompanhar e integrar pessoas que se encontrem numa situação de vulnerabilidade, de risco ou de sem-abrigo. Na maioria dos casos, estão envolvidos homens, “mais portugueses, mas também muitos migrantes que chegam a Beja à procura de trabalho e, por não terem alojamento, acabam a pernoitar na rua”, esclareceu ainda a responsável.

Com uma média de 45 anos, esta população tem associadas diversas problemáticas, como a migração, frequentemente ilegal, o desemprego de longa duração, o alcoolismo ou outras adições, entre outras questões, às quais a Cáritas tenta dar respostas sociais.

Quando se comparam os números de todo o país, é percetível a ideia de que o concelho de Beja precisa de especial atenção.

A Cáritas de Beja faz notar, em comunicado, que, em 2020, o inquérito de caracterização desta população, que foi publicado no portal da Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA), demonstrou que a maioria dos sem-abrigo se encontrava na Área Metropolitana de Lisboa. No entanto, fazendo uma análise aos números por 100.000 habitantes, verifica-se que é no Alentejo que a situação é mais alarmante, principalmente nos concelhos de Alvito e Beja, que têm, respetivamente, 11,35 e 9,72 pessoas sem-abrigo.

Para dar resposta a esta situação, Maria do Carmo Gonçalves defende que deve ser constituído em Beja o Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo (NPISA). 

Maria do Carmo Gonçalves considera ainda que é urgente proceder à definição de uma estratégia que inclua recursos humanos, financeiros e logísticos para responder adequadamente a todos os casos de sem-abrigo, que devem ser acolhidos, protegidos e integrados. Na sequência desta ideia, a responsável refere ainda a importância da habitação, defendendo a criação de habitação permanente e de alojamentos temporários.

 

Fotografia de radiovidigueira.pt