11 Agosto 2023      09:24

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JMJ – O meu testemunho

Não estava em Portugal quando ocorreram os eventos principais das Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa. Essa ausência coincidiu precisamente com as datas de início e encerramento do evento. Fiz portanto o percurso inverso ao dos peregrinos. No coração da Europa, assisti, à distância, à forma como iam decorrendo as actividades e acompanhei, com agrado, a cobertura jornalística efetuada pelos diferentes órgãos de comunicação social europeus sobre este evento.

Por esses dias, Portugal esteve nas bocas do Mundo pelos melhores motivos e isso é um orgulho para qualquer português. A opinião generalizada dos “media” internacionais destacou a excelente organização e a notável hospitalidade dos portugueses. Constatei isto mesmo em primeira mão, sentindo uma certa frustração por não estar presente nesta histórica jornada em solo luso. No regresso, ao escrever estas linhas e não tendo acompanhado diretamente tudo o que aconteceu, corro o risco de abordar temas que seguramente já terão sido amplamente discutidos e analisados.

Na semana anterior, no meu concelho, tive a oportunidade de confirmar o entusiasmo de milhares de jovens, que há muito pareciam aguardar pelas JMJ. Em Vila Viçosa, na semana prévia ao programa oficial de Lisboa, percebi que a fé, entre os mais jovens, é uma força impulsionadora, geradora de esperança, capaz de mover montanhas e vivenciada em rituais de partilha, de solidariedade, de entusiasmo e de alegria. Na realidade, só os jovens poderão ser os agentes da mudança!

Aquilo que vi pelas câmaras de televisão a acontecer em Lisboa foi, em escalas completamente diferentes, um pouco do que sucedeu em Vila Viçosa. Uma contagiante manifestação de religiosidade, em torno de um conjunto de valores que hoje em dia me pareciam estar um pouco esquecidos. Vi jovens com entusiasmo, sem quaisquer complexos relativamente à fé que praticam, a escutarem com atenção as celebrações eucarísticas, a serem interventivos, a procurarem encontrar respostas para as suas dúvidas e incertezas e a verem na figura do Papa Francisco o farol de referência dessa mesma fé em Cristo.

O Papa Francisco, o grande mobilizador, a referência, o carisma e a inspiração! Mesmo para os que não são cristãos. Não tenho qualquer dúvida sobre isso. A sua humildade, a forma como entende a Igreja que lidera e os sinais de abertura do seu pontificado mobilizam os jovens. As JMJ de Lisboa são um exemplo disso mesmo.

Assisti a tudo como espectador e não pude deixar de ficar surpreendido, tendo em conta que a percepção que tinha, talvez até um pouco preconceituosa, era a de que a grande maioria da juventude dos nossos dias tinha outro tipo de interesses, que não passariam necessariamente pelo encontro, pela fé, pela solidariedade, pelo voluntariado, pela capacidade de ajudar os outros, pelo gosto da descoberta e pela capacidade de adaptação. E vi isso tudo a acontecer, quer nas igrejas de Vila Viçosa, nos diferentes pontos de catequese que foram programados, quer nas celebrações em Lisboa.

E também uma nova confiança surgiu para mim, já que não pude ficar indiferente ao que os meus olhos viram. Apesar dos problemas dos nossos dias, dos conflitos, das guerras, das crises económicas, das questões ambientais, encontrei nesses jovens um sinal de mudança, uma vontade entusiasmante e uma esperança num futuro melhor para todos, sem polémicas, sem violência e sem desacatos. E essa mensagem passou para o mundo.

Mas para que tudo corresse bem, foi necessário muito trabalho. No caso de Vila Viçosa, que acolheu o encerramento das jornadas na Arquidiocese de Évora, foram muitas as reuniões, os contactos, as parcerias e o envolvimento de toda a comunidade. 

O trabalho de equipa funcionou na perfeição e essa foi também uma experiência de enorme relevância. Soubemos acolher os peregrinos, demos um pouco de nós e da nossa hospitalidade e esse compromisso foi retribuído, graças ao envolvimento de todos. Essa é mesmo a melhor recompensa. Ver o sorriso estampado na cara dos milhares que partiram rumo a Lisboa foi mesmo muito gratificante, ao mesmo tempo em que senti nos voluntários o sentimento do dever cumprido. É sobretudo Portugal que  está de parabéns pela forma como se organizou e preparou, indiferente aos avisos sempre desencorajantes dos “velhos do Restelo”

Sabemos que a Igreja tem vivido dias difíceis, pelos motivos sobejamente conhecidos, mas nunca devemos esquecer o seu importantíssimo papel na ajuda aos que mais necessitam- Essa missão é fundamental na nossa sociedade. Esperemos que as JMJ 2023 e as palavras do Papa Francisco sejam também motivadoras para uma necessária mudança e uma melhor adaptação às novas realidades que vivemos, tão exigentes, mas simultaneamente tão desafiantes.