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O barulho

É ensurdecedor. Demasiado grande o ruído que se ouve daqui e de além. Não se consegue ouvir nada mais além de um burburinho que é algo que cresce e se torna insuportável.

O barulho faz parte da nossa vida. Na morte certamente já não o ouviremos mas ele continua ao nosso redor. Até na sepultura o barulho incomoda os cemitérios. Não que alguém se queixe, mas há um ruído que dura e perdura em cada uma das entradas e saídas de uma casa sem vida.

A vergonha

Começo a escrever esta semana com algum receio, alguma insegurança em colocar as palavras juntas e construir frases que não sei se farão sentido algum. Se assim for, terei vergonha de escrever as linhas que se seguem.

Sendo muito semelhante a um camaleão, a vergonha pode assumir diferentes formas e aproximar-se daquilo que mais receamos.

O perfeccionismo

Aquilo que é perfeito é desprovido de erro. Não há nada na perfeição que seja uma falha ou que tenha uma irregularidade. A perfeição é o resultado sumo e final da obra que se constrói.

Uma construção que é perfeita é-o a nível tal que ninguém consegue detetar qualquer tipo de desvio ao planeado e o plano que lhe serviu de base é já de si perfeito.

A perfeição de um jogo de futebol acontece quando uma equipa não falha em nenhum dos passes e cuja estratégia é infalível, possibilitando uma vitória pelo maior número possível de golos.

O pânico

A noite caía devagar, marcando a transição entre o claro e o escuro. O coração de todos e de cada um batia de forma forte e acelerada. Eram muitos os corações que se emparelhavam e desenfreado o ritmo que, sendo ligado em máquinas, faria os motores do mais forte camião funcionar sem problema algum. Mas havia razão para tal. Na noite que se instalava devagar, a velocidade dos acontecimentos criava o pânico e os intervenientes sentiam, mais profunda que ninguém, a carga de ansiedade que a realidade trazia consigo.

A fadiga

Movimentavam-se dolentes debaixo do calor insuportável do Alentejo. As sombras eram mais pesadas que o próprio corpo. Num horizonte que se perdia de vista, caminhavam como se na penumbra fosse.

A fadiga vivia em todo o lugar da vida dos homens e das mulheres da baixa província. A fadiga movimentava-se no meio das coisas. No rosto das pessoas, o cansaço tomava o corpo da fadiga e tornava a dança do sol com o calor o suspiro da fadiga.

Os homens e as mulheres sabiam que os seus cansaços tinham um nome e viajavam entre pedaços de fazenda nessas terras.

A obstinação

Estavam duas pessoas no carro. Uma sentada no lado direito e outra sentada no lado esquerdo. Uma conduzia e a outra servia de co-piloto. O problema era que o co-piloto devia indicar o caminho a seguir e como era obstinado não queria por o mesmo do condutor.

Andaram dez quilómetros. Um a dizer que o caminho era pela esquerda e o outro pela direita. Tanto discutiram que acabaram por ter um acidente num cruzamento em que nem a direita nem a esquerda servia. Há quem diga que foi uma decisão mal tomada. Outras pessoas chamaram-lhe obstinação!

A culpa

Haverá muitos de vós que a sentem, por coisas cuja solução não podem dar e haverá tantas outras coisas cuja resolução vos ultrapassar mas continuam a sentir esse peso de quilos e toneladas na cabeça. Parece pesada… aquilo que fiz foi errado. Não era o caminho certo, não era o que eu tinha feito, mas não sei por que razão continuo a sentir culpa. A culpa é tão intrínseca ao ser humano como o solstício ao verão, as nuvens na chuva, os relâmpagos na trovoada… nada existiria um sem o outro. A culpa não morre sozinha, já se dizia quando nasci e quando cresci.

A preguiça

A seguir ao medo, escolhi a preguiça para nos fazer companhia neste fim de semana. Se na semana passada acordei com medo por volta das cinco e meia da manhã, hoje, dia nunca de antes do dia primeiro, acordei com preguiça. Sabem aquela que nos atormenta quando nos deitamos na cama e que não nos deixa sair dela antes do meio dia ou de qualquer hora depois do sol raiar e se sobrepor ao que já estava além do território oval terrestre?

O medo

Acordei bem cedo! Eram mais ou menos seis da manhã. Normalmente não acordo a esta hora da manhã mas hoje acordei. Não sei o que se passava à minha volta porque vivo e estou sempre sozinho. Não havia e não há nada ao meu lado. Apenas a parede e os cortinados, de um lado, do outro uma parede… e o nada.

Mas estava lá o medo! Essa personagem dos filmes americanos que me aparece aqui…

Pensais que tenho medo? Muito! O que é o medo? Essa sensação que nos assoberba e nos absorve e nos transforma?

Encruzilhadas

Foi na semana passa que o mundo acabou e com eles todos os animais se extinguiram e passaram a fazer parte do passado. Deles ficaram as memórias escritas semana a semana contando as suas ideias, os seus jeitos, as suas venturas e desventuras. Ficamos a conhecê-los tão bem que neles nos reconhecemos muitas vezes. Em cada um deles vimos coisas de cada um de nós e em cada um deles sentimos que poderíamos moldar-nos e ser assim.

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