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Flores

O meu campo de visão é preenchido por uma imagem pura: a lua está a cair.

Sinto o meu coraçãozinho pequenino a apertar.

Dói. Estou hesitante. Será que é bom estar numa relação a longo prazo com a dor? Será que é bom estar a doer?

As onze da noite batem e as estrelas que pintam o céu comunicam comigo. Tentam transmitir-me algo, mas não as consigo ler. Cantam todas juntas uma melodia incompreensível. Peço ajuda a uma estrela cadente; é esta a função delas, certo?

Indenidade

Não te consigo ver.

Está tudo tão cinzento.

Mexe-te, por favor. Esforça-te por mim.

A nuvem insiste estar permanentemente desenhada à minha frente com um olhar incerto que nem o teu sorriso a consegue iluminar.

Não te afastes de mim; eu sei que me consegues ver, eu consigo sentir-te do outro lado.

Chão frio

Chão frio. Cabeça pesada. Alma cheia.

Mãos dormentes. Olhos tristes. Alma depressiva.

Espelho sujo. Canção aborrecida. Alma aflita.

Tempo zangado. Madrugadas infinitas. Alma doente.

Ainda bem que chegaste. Ansiava a tua visita. Deixa-me aclarar-te a mente: o fumo é verdadeiro. Nada dura para sempre. Vamos fugir. Correr até nos cansarmos. Dançarmos até morrermos. Chorar até doer.

Saudade da esperança

Se a saudade chorasse, viveria num oceano profundo; se eu desse autorização ao meu corpo, ele cairia  berrando o teu nome constantemente; se pousasse o meu corpo no oceano, ele boiaria sem pensar.

Hoje, continuo a dançar com a tua sombra nesta cidade velha e gasta; cada memória, cada lembrança, queima-me profundamente. 

O meu coração continua a despedaçar esperança, as minhas mãos tremem sem as tuas por perto, e estas quatro paredes questionam-me: “será que ele pensa em ti como pensas nele?”. Aviso-as para terem cuidado, que já tiveram demolidas anteriormente. 

Saber (a)mar

Pouso a palma do meu pé esquerdo delicadamente na areia molhada; ficando este com pingas, nunca esquecendo da camada de areia que o pinta serenamente. Respiro fundo e inalo o cheiro da maré cheia que dança ao meu redor: cheira a esperança, cheira a novo, cheira a renovação. Assim que o meu peito baixa, fecho com cuidado os olhos, sentido o mesmo a relaxar. Estou num estado profundo de calma.

Outro passo e tenho os meus dois pés dentro de água. Outro e a água voa pelos meus tornozelos. Ar. Preciso de ar, de novo. Volto a repetir a ação passada e recebo novas sensações.

Deixem-me

Deixem-me. Quero estar sozinha. Quero esta sozinha enquanto o mundo estiver pintado a preto e branco. O mundo continua a transpirar crueldade e não consigo respirar. Larguem-me. Preciso de espaço. Preciso de enxergar com os meus próprios olhos; caso contrário, não acredito.

Suspiro.

Abraço o chão com a palma do meu pé devagarinho. Vivo numa relação intensa com o medo. O meu coração é agredido por olhares penetrantes tendo uma ferida constantemente aberta. O género que tenho tem o poder de mudar o meu destino. O meu fado está mão de outros.

Medo ao espelho

Tenho medo de mim. Medo dos outros. Medo. Medo. E medo. Estou numa bolha há meses; se rebentar, rebento com ela, e depois?

Quero voltar a sentir a liberdade a bombardear cada vaso sanguíneo meu. Quero beijar o vento, balançar ao seu ritmo e sorrir para o sol.  Somos todos peças ingratas que não soubermos dar valor; e agora, choramos implorando por ela. Questiono-me se voltará quando sussurro o seu nome.

Sinto-me parte de um sonho louco coletivo onde se torna um pesadelo de dia para dia. Todos rastejamos até chegar ao toque; mas este corre velozmente.

Dei-te tudo

Dei-te o mundo. Pelo menos o meu.

Dei-te as minhas lágrimas, dei-te a minha dor e continuo do avesso.

Perdi a minha voz, o meu olhar, perdi-me em ti e ainda não me encontrei.

Dei-te o meu ar junto da minha mão e largaste-a. Caiu tão suavemente que só senti quando voltei a ter um frio desconhecido, será? Tão desconhecido assim?

Fiz as pazes com a dor e jogamos xadrez. Caída nela, dá-me forças (ironicamente), não me puxando contra si, não desistindo de mim.

Hoje, contra o vento furioso, despeço-me da tua sombra que me persegue inconscientemente.

Tempo sem senso

O tempo mandou avisar que leva tudo, insistindo que nem o que parece cruel o é. Que tudo acabará por ter um sentido, por mais impiedoso que pareça.

Deito-me com o olhar dirigido para as nuvens, que formando desenhos inconstantes, parecem dançar com o azul claro do céu. Isso é bom, certo? Está claro simbolizando tranquilidade. Fecho os olhos e quem está a nadar agora sou eu. É a minha vez de sonhar com um mundo utópico; será que ele chegará para mim?

Uma carta à alma

Querida Alma,

Prometi-te parar de escrever sobre ele; mas sinto-me nua sem a sua presença, preciso de palavras que me marquem, que me vistam e que me agarrem tão ou mais forte quanto os braços dele.

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