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Under The Volcano (1984)

Não é o tempo ou a experiência (mantidos convenientemente como gémeos que escolheram viver como vizinhos) que nos preparam para um filme como Under The Volcano (1984), antepenúltima realização de John Huston. Porque nada nos prepara para a morte. Fora do jogo da ilusão, é claro.

Um piquenique nas imediações do reino dos anjos?

(Picnic at Hanging Rock)

(Peter Weir, 1975)

Neon Demon II

(Resposta em modo post aos comentários do R. e do F., que obrigam a exigência máxima: - Quanto às durações e aos planos utilizados na sequência de necrofilia, não vejo nada que me impressione negativamente – pertencem à natureza do filme. E a saliva dos beijos é tudo menos simulacro. Quando dizes que o corte para Jesse é contraproducente, ou seja, desnecessário, eu arrisco dizer que é o que tem de ser.

The Neon Demon, de NWR

Nicolas Winding Refn não filma e mostra, dispara sobre o ecrã, e de um modo que à primeira vista não pode deixar de ser considerado como insuportável. Reflexo (nosso) de um modelo educativo frio e hirto e de uma pré-disposição constitutiva (outros, menos dados às ciências naturais, chamam-lhe cinismo finde-siècle) para a desconfiança. Olhar tísico? Nem tanto, autodefesa congénita.

Apreciação que antes fazia todo o sentido e agora de pouco importa, desde The Neon Demon.

Nick Drake, cinquenta e nove canções depois

Muito facilmente encontrarão escrito que Nick Drake viveu a maior parte da sua vida subjugado pela depressão, que aos 26 anos finalmente o matou. Mais difícil é pressupor para lá da biologia, da mecânica da doença, senão identificada e curável, pelo menos identificada e tratável.

Há trinta e cinco anos, Marguerite Duras não se furtou à palavra, pois não podia, mas alongou-a, até ao infinito ou muito próximo (exagero necessário).

Doença que tinha nome, mas não forma, a Doença da Morte. Uma falta sem remédio – a ausência de vitalidade.

Indiana Jones e o Templo Perdido

O bendito Poeta afirmou, cúmulo do atrevimento, que cada geração tem as referências que merece. Gozo à parte, os que fizeram 10 anos algures durante o ano de 1984 nunca se incomodaram com tal declaração. Sabem bem o que são e quem os fez. Quem lhes abriu as portas da percepção. Isto é, quem nos passou a perna pela primeira vez e, na sequência directa, nos mostrou o quanto éramos respeitados como indivíduos.

Claude Monet

A luminosidade antecipa, dobra e explode, e deixamos de poder ver. É nesta aparente contradição que os impressionistas encontraram o seu caminho. Não era um logro, antes uma hipótese – na verdade, a única. Querer ver no excesso de luz um máximo de nitidez é apenas o senso comum para lá do senso comum a funcionar: quando nos atiram um jorro de luz directamente para os olhos passamos a ver melhor? Claro que não, é o oposto. Mas é mesmo assim ou é antes...o verbo correcto utilizado de forma errada? Digamos que sim.

Catherine Breillat, a escritora…

Em caso de dúvida – o que não deixa de ser compreensível –, que se aprove o cinema de Catherine Breillat. E isso porque entende o campo das imagens como um espaço central de afirmação da mulher como entidade independente, decidida e sexual. As dúvidas e, se quisermos, hesitações das suas personagens existem como evidência para o mais do que atempado (necessário) contraditório ao status que impõe a mulher como ser a purificar. Breillat é mulher e acredita na penetração e na busca do prazer - e não como elemento de resposta, mas de descoberta e posterior certificação.

A Revolução de Veludo (parte II)

Anos 70, Londres, sob o habitual céu cinzento, “refulge de brilhantes e maquilhagem”, uma nova ordem simbólica emergiu, fundeada na cena musical. Recolheu e abrigou miúdos, lascivos e os “náufragos das sarjetas”, acenando-lhes com o excesso de cor e oferecendo-lhes ídolos que se parecem com os seus reflexos nos espelhos. O GlamRock reina, e disso mesmo somos informados pela insuspeita BBC.

“Todos somos bissexuais!” – Palavras aladas vindas da boca de um jovem sorridente com uma mulher nos braços.

A Revolução de Veludo (parte I)

Ninguém respeita mais o sagrado que os não crentes. Até porque quando o encontram, não foram a livros ou discursos fáceis. Sabem escolher. Ao não crente dá-lhe para a rebeldia e menos para a contemplação acrítica; é da sua natureza, digamos. E quando lhe dá para a confissão, fá-lo por se querer reencontrar e não para alcançar a absolvição. Méritos, esses, não são sequer comparáveis, pois, convenhamos, é muito mais assustador saber que nunca se saberá o que se encontra para lá do Universo, do que imaginar lá uma divindade benigna à sua imagem.

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