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Sandra Fontinha

DE ESTÔMAGO CHEIO II

A novela Coração, Cabeça e Estômago, como vimos na última crónica, corresponde a três fases distintas da vida de Silvestre da Silva. Na primeira, apaixona-se por sete mulheres assim que as vê, acabando sempre por ser rejeitado e até injuriado, o que fere a sua natureza sensível e exuberante, deixando-o abalado física e psicologicamente: “Recolhi-me com um catarral e estive onze dias de cama”1.
 

DE ESTÔMAGO CHEIO I

 

“_ O meu amigo Faustino Xavier de Novais conheceu perfeitamente aquele nosso amigo Silvestre da Silva…

_ Ora, se conheci!... Como está ele?

_ Está bem: está enterrado há seis meses.”1

 

Morto de morte falecida, mais propriamente de caquexia, apesar de ir a banhos (de mar) na Póvoa de Varzim, que acabaram em banhos de chuva, assim finou Silvestre da Silva, folhetinista, poeta, filósofo, jornalista e político.

HOJE É O DIA MUNDIAL DO…

O caro leitor sabia que existe um Dia mundial da Canalização? Ou ainda um Dia Internacional do Fetiche? Do Engolidor de Espadas? Do Pi? Do Duende? Um Dia Mundial da Migração dos Peixes? Um dia Internacional da Prostituta?

Também existem assuntos mais pragmáticos como, por exemplo, o Dia de Limpar o Computador, o Dia do Backup, o Dia Mundial do Whisky, o Dia Mundial da Higiene das Mãos, entre outros, que aparentam ter, pelo menos, uma vantagem manifesta: a de nos recordar algo mais imediatamente útil.

ABRAÇO À ESCOLA PÚBLICA

“É manifesto que muitos “contratos de associação” só se têm mantido por cedência dos governos à pressão do lobby do ensino privado. É manifesto que só devem persistir os que correspondam a falhas da rede pública, se é que ainda existem.” (Santana Castilho, Público, 04/05/2016)

UM OLHAR SOBRE A INQUISIÇÃO

Com o casamento dos Reis Católicos D. Isabel I de Castela e D. Fernando II de Aragão, em 1469, pretendeu chegar-se à união Ibérica pelo meio da unificação política das coroas, mas também a uma unificação religiosa, através do estabelecimento da Inquisição para combater as heresias.

CHOVEM CRAVOS EM ABRIL

Quando se diz que chovem cravos em Abril é posta em evidência a incontestável importância que Abril teve na história de Portugal, assim como é lançado o mote para reafirmar Abril extemporaneamente.

No dia 25 de abril de 1974, ainda não tinha nascido, portanto, não tenho na memória esse acontecimento. Eu, não. Mas, dada a actual conjuntura social, em que a pirâmide etária portuguesa apresenta uma base mais estreita do que deveria, estou inclinada a crer que a maioria da população assistiu ao despertar da democracia em Portugal.

SENTA-TE, NÃO SAÍMOS NA PRÓXIMA

O acordeão como guia, corro, como sempre, fugindo do tempo, distribuindo encontrões e desculpas escusadas. Chego, ainda ofegante, até ao cais sobrelotado de almas torturadas pela dor, pela solidão, aparentemente indolentes. Ouço alguém chorar. Desprendem-se gargalhadas e planam até mim. Procuro-as vagamente e dou por mim a observar-te.
Chega o metro, entramos, sigo-te calada, mas, olhando-te descaradamente, impregnando-me da tua imagem, absorvo a tua essência e assimilo a tristeza que pressinto submergir-te. Ignoras-me.

IMPOTÊNCIA CULTURAL

Em Évora, numa parede da Rua José Elias Garcia, há um graffiti, fotografado em diversas ocasiões e divulgado na internet, que me marcou tanto pela pujança da ideia veiculada como pela justeza da justaposição intensa e incisiva de duas simples palavras: “Impotência Cultural”.

Confesso que sempre que o vejo, sorrio, para não chorar, e, invariavelmente, materializa-se na minha mente a ideia de um mundo frio e hipócrita, que não assume a sua mediocridade, disfarçando-a com floreados hostis de tradição.

DEIXEM OS VOSSOS FILHOS BRINCAR COM BONECAS

O Dia Internacional dos Direitos das Mulheres ou o Dia Internacional das Mulheres, numa sociedade justa, nem sequer deveria existir. Mas, enquanto houver mulheres vítimas de desigualdade, tortura, abusos, assédio, escravatura, violência, mutilações, entre outros horrores, justifica-se a sua permanência.

Actualmente, comemora-se esse dia (e também se pode celebrar, pois é legítimo celebrar as conquistas), mas muita gente tem dele uma ideia superficial, que não corresponde em absoluto ao seu propósito original.

COMO PREPARAR-SE SERENAMENTE PARA A MORTE

É costume o comum dos mortais, aquando do falecimento de um familiar, de um conhecido ou de um indivíduo ilustre, endeusar o infeliz, sobretudo nas redes sociais (onde são expostos e despejados os despojos _ passem-me a paranomásia _ da nossa existência). Mas quando se trata de uma referência na política, na arte ou nas ciências, então parecem não chegar os epítetos mais laudatórios porque, também, por portas e travessas, acaba por constituir um bálsamo para o ego o facto de assumir-se como supremo “connaisseur” da obra do falecido.

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