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Rita Medinas

Ironia

Irónico, não é? Como linhas se cruzam e explodem vida. Explodem memórias. Ecoam vozes e fala-se de toda uma beleza escrita ao longo nos nossos corpos. 

Lisboa ganhou-me. Sob efeito de um sorriso - que aparentemente - envolve calor e despe simpatia; ganhou. 

Ainda não a querer acreditar no evidente resultado, os meus olhos tímidos enxergam a esperança que resiste. 

- Não, não e não. - É toda a informação que recebo enquanto que sinónimos lutam para aquecerem o meu coração. Ou o que resta dele.

Querido tu

Querido tu,

Faria loucuras para ouvir a tua voz. A pronunciar o apelido que me chamavas. A cantar a (nossa) canção. Para me sentir em casa. E eu sinto tanto a falta de casa. Da nossa casa.

 

Querido tu,

Faria loucuras para te abraçar. Para sentir o teu cheiro a curar cada pedaço de mim e,

 

Querido tu,

Faria loucuras para te olhar nos olhos. Saberias que era tua. Sempre fui e sempre serei. Para o castanho se tornar a minha cor favorita de novo e de novo.

 

Querido tu,

Silêncios

As pegadas foram tão profundas que queimaram a alma. Uma moldura partida onde o chão é decorado por vidros. Que eu não me importaria de caminhar em cima de. Engulo em seco e tento perceber o porquê de não caírem lágrimas. O porquê da minha cara doer se não existe nada que o provoque. 

Algo parou de bater, ao levar a mão ao meu coração percebo que não foi este, e uma vez mais, tento perceber. 

Ilusão

Já não bate. Já está perdido e arrastado. Sujo e derramado. Fragmentado e sem vida. 

Eram dois. Na verdade, podiam ser muitos dois. Dois segundos. Duas almas. Duas casas, mas apenas uns olhos que carecem de esperança tentam lutar.
Já foi. Já existiu. Preto manchado de ilusão vermelha, que não consegue exprimir. 

Ilumina-me

deixem-me vê-lo também. que ele penetre cada parte do meu corpo cansado e que faça sair o suspiro que está perdido entre pensamentos; apesar de haver dois que pintam o meu pulso esquerdo. não aquecem. não me comove. não me chega onde é suposto chegar.

sinto-me tão fria quanto uma noite de janeiro onde a geada faz desenhos no ar. não me consigo iluminar, os meus olhos não o sentem e estão perfeitamente abertos. não consigo abraçá-lo. não consigo toca-lo nem sentir.

que caos. 

À hora marcada

Como se estivesse a espenicar. Como quando queremos chamar alguém para a realidade.

Como se estivesse a berrar lá dentro. Treme tanto. Agita e nem sequer movo um pé.

Como se estivesse a querer sair e se encontrasse perdido sem encontrar uma das saídas.

Menos um; ou será apenas mais um?

O calendário deixou de fazer sentido e guio-me pelos desejos que pedi à lua. Pelos meus desabafos, pelos meus suspiros tão profundos quanto o mar. É assustador.

Amar e desamar amor

Querida Anjinha, Hoje não fui valente. Hoje caí, despi-me e enrolei-me na solidão. Prendi-me à angústia e deixei cair partes de aflição que não recordava que pertenciam ao meu corpo. Ainda nua, tomba a tristeza e permanece um coração quente. Com toda a minha falta de energia, colo-me à minha sombra e começamos numa dança sinfónica profunda onde o castanho dos meus olhos formam um círculo à volta dos mesmos, onde a beleza nunca pertencera e deixo-me estar. Apesar do evidente cansaço de ser sempre a mesma melodia, envolvo o meu peito ao que nunca saiu do mesmo.

E um bom filho, a casa torna

Com o auxílio de um pincel, ao som de algo sereno criando uma antítese com os batimentos acelerados que saltam do meu peito, misturo cores numa tela; criando uma sensação de refúgio que me permite sonhar acordada.

Fecho os olhos. Segundos, transformam-se em minutos, e volto a abrir, a combinação produzida pelo meu subconsciente, faz-me suspirar: verde, castanho e um azul na borda.

Os cantos da minha boca inclinam-se sem querer e solto outro suspiro involuntário.

Memórias acordadas, mas vividas.

Será

Um castanho acolhedor tocou na minha alma. Dei um passo e encontrei uns olhos a salvarem-na. Dois passos e há uma calma realçada pelos mesmos. Três, um abraço profundo sem toque.

Quatro e há um fogo caloroso que protege o meu coração.

Um sonho, uma vida e um futuro. Um sonho adolescente, uma vida afável e um futuro delicado.

Sentir

Outrora quebrada, ela respira esperança com o auxílio da simplicidade. Outrora em peças espalhadas, há um abraço que a traz de volta a casa. Há beleza que cobre um corpo. Há vida por detrás de um sorriso. 

Um lar. Dois corpos. Almas separadas. Corações cruzados. Felicidade.

A duração da música foi cortada e nela, no presente, reina um silêncio aconchegante.

Dois fantasmas aparecem a lutar. A lutar por não conseguirem tirar as mãos um do outro. Os vestígios que imploramos para não desaparecerem.

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