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literatura

Mantodea

Chamava-se Mantodea. Tinha 28 anos e um curso universitário. Era uma criatura de pernas longas e um vestido verde longo de gala, uma mulher linda! Sabia que o era. E fazia uso disso. Mantodea depois de acabar o curso mudou de cidade e foi viver para o Algarve. Antes, em Beja, sempre fora uma rapariga discreta. Numa cidade de insectos, Mantodea fez o seu percurso de forma muito discreta. Andou de um lado para o outro e em Beja era uma pessoa que passava despercebida. Nunca ninguém notou que Mantodea era, verdadeiramente, uma assassina. Nem eu sabia.

Uma carta à alma

Querida Alma,

Prometi-te parar de escrever sobre ele; mas sinto-me nua sem a sua presença, preciso de palavras que me marquem, que me vistam e que me agarrem tão ou mais forte quanto os braços dele.

Lobo em pele de cordeiro

Nascido nas Beiras, João Lobo era um rapazinho ambicioso. Fez os seus estudos numa escola secundária pública e sempre foi o melhor aluno.

João Lobo nunca tinha tido uma nota abaixo de 95 por cento em todas as disciplinas. Quando terminou o secundário decidiu enveredar por uma região diferente do país. Foi para o Alentejo. A sua primeira preferência era a área mais calma do país e aquela que, na minha opinião, era a mais rica na vida académica, sem prejuízo de todas as outras. João Lobo fez economia em Évora e aí se tornou Doutor nos mesmos estudos.

Arado

Por Ricardo Jorge Claudino

 

ARADO

Arar, fertilidade mútua

De quem semeia

O que a terra dá

Genuína permuta.

 

Abençoado arado

Dentes enxadas

Rompendo veios

Mãe Galinha

Pedrês de seu nome, era uma franganita do campo. Nascida de um ovo, chocada com mais 8 irmãos, desde pintainha que cedo aprendeu a seguir a mãe, sentir-se protegida e aprender a lidar com as adversidades.

Ir parar ao tacho e transformar-se em cabidela era uma delas, embora não o soubesse.

Pedrês foi crescendo com os irmãos e com as irmãs e conheceu verões, invernos, primaveras, outonos. Houve períodos de mais abundância e períodos mais difíceis durante o seu crescimento.

I. A toupeira

Começa, com este texto, mais um ciclo nesta minha coluna semanal. Desta vez, tornei-me mais arrojado. Não que, de forma alguma, queira ou me possa comparar a Ésopo ou La Fontaine, mas tentarei criar alguns textos e alguns mundos em que as personagens e, principalmente, os protagonistas são animais. Nas próximas semanas, dificilmente, o caro leitor e a cara leitora se cruzarão com seres humanos e, se isso porventura acontecer, terá sido pura coincidência.

O Medo viaja sem passaporte

Medo de mim. Medo que a minha mente viaje sem a minha autorização.

As minhas veias estão preenchidas de lágrimas zangadas. O meu coração está deprimido, colorido com a cor mais melancólica que alguma vez conhecera.

Os meus ouvidos estão esgotados dos pensamentos que berram uma sinfonia infeliz. Segurando a minha cabeça inquieta entre as duas mãos, grito sussurrando,

"-Ajuda".

Mas é em vão. Não será tudo?

Ao lado do sofá verde pardo há um espelho. Serei corajosa o suficiente para encarar o meu monstro?

A Caixa de Pandora

“Pára. Pára de tentar. Pára de esconder o sofrimento e as frustrações debaixo da tua almofada; é lá que descansas a tua mente e onde os teus pensamentos sonham”. Sou a que tudo tem e a que tudo tira. Hesíodo fala sobre mim, e diz: “Dela vem a raça das mulheres e do gênero feminino / dela vem a corrida mortal das mulheres / que trazem problemas aos homens mortais entre os quais vivem, / nunca companheiras na pobreza odiosa, mas apenas na riqueza”.

Tempo novo

Este é um tempo novo. Um tempo que se Renova. Não é o tempo em que me sinta mais criador, nem o tempo em que a minha imaginação pulse. Sinto-me como que um inútil que passa o dia a fazer coisas que, no final, passam a ter alguma utilidade.

Este é um tempo novo que não queria conhecer. Desde o dia primeiro que sigo as notícias. Vejo diariamente as coisas que me contam os amigos, os seus pensamentos, as suas divagações, a beleza das suas criações.

Talvez mais separados que nunca, reencontrá-lo-nos na fibra ótica, nos bits e nos bytes, nos desabafos e nos sorrisos virtuais.

O homem do metro

Afinal, o que é e quem é o homem do metro? O homem é um substantivo masculino, alguém do sexo masculino, que é qualificado como alguém que anda e que é associado ao metro. O homem do metro não era ninguém relevante. Nunca o foi na sua vida para qualquer história. Tornar-se-ia na nossa história e por isso... conhecido de vós num pequeno pormenor na crónica de janeiro, o homem do metro cruza-se com uma mulher... e cruzam-se muito mais do que socialmente.

A mulher, não sabíamos ainda quem era. Só a conheceríamos no mês seguinte.

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