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Crónica Literária

Lugares vagos

Hoje, ao percorrer uma curta distância de comboio, houve algo na viagem que me começou a atormentar e a preencher o pensamento. A maioria dos lugares no comboio, naquele percurso que estava a fazer estavam vagos.

A viagem não ocorreu durante a pandemia, claramente. Aí tudo estava vago. Quase toda a gente mudou os seus hábitos, ficando em casa, trabalhando a partir daí, fosse essa decisão por obrigação ou por decisão consciente de saúde.

A profecia das três bolotas

No ano longínquo de 2198, após anos e anos de guerras nucleares e devastações naturais, cansadas por tudo o que é menos natural e menos humano. Foram anos seguidos de devastação. Portugal tinha deixado de existir e de ser conhecido como tal. Nas grandes cidades restavam escombros e cinza. Não crescia nada nelas. Além do castanho e do cinzento, nada mais havia.

Ninguém se lembrava das cores do mundo, das cores da natureza. Ninguém existia para se lembrar das cores, ou na vida em si.

A torre da igreja

Caiu a torre da igreja! Caiu a torre da igreja e é mau presságio! Caiu a torre da igreja e nesta terra ninguém mais se vai levantar, ninguém mais vai acompanhar as horas e o cronometrar dos tempos. Gritava a mulher idosa em frente aos escombros daquela igreja com duas torres. Assustada, vestida de negro pelos pesos e as mortes todas que tinha já carregado na sua vida. O luto acompanhava-a já há pelo menos mais de um quarto de século.

Almas desalinhadas

Uma caiu, e a seguinte ameaça percorrer o mesmo caminho.

Há nuvens com formatos por desvendar que cobrem a minha cabeça, há um sentimento novo que me agarra e promete ficar até aos finais dos meus dias.

A cor azul prende-me para que nunca mais seja largada contra o vento. Sorrio pela solidão ser tão colorida.

Uma dor está deitada sob o meu corpo e forma um novo corpo que se junta ao meu. Uma vontade. Um desejo. Foi prometida a eternidade e não há rasto.

A ameixa

Nascida de uma pequena semente, caroço de uma saborosa ameixa, plantada por um homem de idade avançada, com esperança que os filhos e os netos dela fizessem uso, a ameixeira passou de semente a rebento. Assim

Foi crescendo e crescendo e crescendo. Todas as estações passar por ela. A pequena ameixeira. Não sei se ela tinha noção que era ameixeira e que cresceria, e cresceria, e um dia daria flores, e das flores nasceriam frutos, que seriam comidos por pássaros ou por humanos e que deles sairiam novas sementes e essas sementes dariam novas ameixeiras.

Televisão a cores

Eram mais de 12 os irmãos que habitavam naquela casa. Todos filhos do mesmo pai e da mesma mãe, tinham intervalos de idades muito semelhantes entre si. As diferenças eram de um ano cada, mais coisa, menos coisa. O mais velho tinha já ido à tropa e trabalhava agora nas minas, junto com o pai e com um dos outros irmãos que não tinha idade ainda para ir à tropa mas tinha já bom corpo para trabalhar.

A lenda dos quatro olhos

Era um dia de festa, mais propriamente da Festa da Santa Suzana, que se celebrava todos os anos naquele dia. E nessa mesma data vinham os filhos da terra que tinham ido para todas as partes do país, uns para mais longe, outros para mais perto, mas todos conheciam e reconheciam o caminho para a festa da Santa que nos últimos séculos ali tinha estado a ser respeitada por todos e a ser homenageada através de uma missa e do encontro de vizinhos e primos, e tios, irmãos e pais que por demasiado tempo não se viam. Alguns, só nesse mesmo dia se encontravam, dadas as circunstâncias.

A chuva em dias de junho

Ontem choveu, não tanto quanto desejavam todos aqueles que da chuva se escondem, mas que a anseiam e a desejam.

Neste regresso ao Alentejo dos filhos que voltam temporariamente e que transportam consigo a alma do seu lugar de nascimento, a paz vem consigo, a necessidade de reencontro com as raízes, com os pequenos momentos, com o processo de andamento da vida e com a história dos que estão e daqueles que estiveram e deixaram o seu testemunho.

Regresso ao Alentejo

Hoje, a família ausente, regressou a casa. Longos anos se passaram desde que duas pessoas saíram daquele monte. Quando o deixaram, viviam nele mais do que uma família. Esta, a mais nova, formara-se de uma moça que morava no monte a seguir, cujos olhos se cruzaram com o moço que vivia no preciso monte de que falamos.

Nesta casa, há muitos anos, vivia o moço e muitos irmãos, com os pais e ao lado, muitos primos. A moça vivia no cerro a seguir, com muitos irmãos, muitos primos e os pais.

O Dia de Portugal, o dia de Camões e dia das Comunidades Portuguesas

Comemora-se hoje, dia 10 de junho, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Combinamos todos no mesmo dia. Honramos o nosso país através do assinalar do nosso dia nacional. Mais do que um dia de cerimónias e circunstância, este é um dia que representa o orgulho de um povo, um dia que nos une. O dia de Portugal ultrapassa as fronteiras territoriais, virtuais e sentimentais. Este é o nosso dia, como o dia 4 de julho é o dia dos Estados Unidos, o dia 14 de julho é o dia de França. Há algo especial que nos une a todos neste sentimento de pertença patriota.

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