Recentemente, o Primeiro-Ministro veio afirmar que o facto de se registar um número elevado de emigração jovem, em nada contribuiu para a diminuição dos números do desemprego.
Com uma fundamentação completamente desfasada da realidade, Passos Coelho tenta separar as águas entre dois factores inseparáveis.
É uma operação aritmética simples: Mais pessoas a sair, menos candidatos a eventuais empregos em Portugal, não há muito que saber.
É igualmente uma operação aritmética simples a que tem de ser feita na análise dos inúmeros programas de estágios promovidos pelo actual Governo.
Mais uma vez o Governo incentiva empresas a contratar jovens para estágios precários e sem qualquer garantia de estabilidade.
É importante fomentar a integração de jovens no mercado de trabalho. Mas é ainda mais importante fomentar a integração desses mesmos jovens nessas empresas.
Porque é que, aproveitando o espírito reformista em termos de impostos, não se criam incentivos às empresas que, após o estágio e a inevitável análise de competências, aceitem integrar jovens trabalhadores nos seus quadros?
É certo que, com todas estas manobras de criação de estágios e incentivos à emigração, os números do desemprego efectivamente descem. Mas a questão que temos de colocar é: e depois?
E quando terminarem os estágios? E quando chegarmos à conclusão que os jovens que agora emigram já não regressam porque o seu País não lhes oferece condições para tal?
Aí os números do desemprego voltarão ao seu número real.
Aí a realidade virá efectivamente ao de cima.
Aí todos perguntarão, e agora?
Agora é tempo de combatermos esta ilusão que o Governo teima em apresentar aos portugueses como um enorme sucesso.
Não é nenhum sucesso! É uma vergonha!
É uma vergonha que se deite fora a geração mais qualificada de sempre.
É uma vergonha que se dê o primeiro passo na inserção de jovens no mercado de trabalho e, logo de seguida, se lhes tire o tapete debaixo dos pés.
Sim, porque os meses que os jovens estão a investir em estágios profissionais, é tempo que estão a perder no mercado de trabalho que não pára.
Quando estes estágios terminam, a falta de oportunidades continua.
Há que pegar nas empresas que apostam na verdadeira modernização dos seus quadros e incentivá-las.
É fácil contratar estagiários a baixo preço. O difícil é aceitar que todos temos e merecemos um lugar na empresa onde demos os primeiros passos e onde queremos crescer e não nos deixam.
É fácil exigir trabalho e resultados a baixo custo. O difícil é ter a coragem de efectivar contratos com pessoas de valor.
Esta geração que todos elogiam e incentivam a começar quer e merece continuar! Não quer ser obrigada a sair nem do seu País nem do local de trabalho onde investiu meses, dias e horas.
O desafio a colocar ao Governo e a estas empresas é tão simples como a operação de aritmética que referi há pouco. Não tenham medo do futuro! Invistam nele!