5 Fevereiro 2015      00:00

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Sinais de mudança?

Nas últimas semanas, sucederam-se a nível europeu dois acontecimentos que importa destacar, e que podem ter consequências directas para Portugal.

O primeiro é relativo à Grécia, pelo facto das eleições legislativas terem sido ganhas por um partido de esquerda considerada radical, situação que nunca tinha acontecido na história europeia, e que desta forma, o transporta para um nível de impacto imprevisível. Esta imprevisibilidade pode revelar-se tanto a nível prático, no futuro do país e na vida das pessoas, como num panorama internacional de relações com os outros países e com as estruturas de poder na Europa.

A vitória de um partido contra-poder e adverso ao sistema instalado, com este carácter ideológico e no contexto envolvente em que está inserido, é uma realidade sem precedentes, sem base comparativa, o que torna o sucesso de Alexis Tsipras e do seu Syriza um fenómeno muito interessante de analisar e seguir os próximos desenvolvimentos.

O segundo, centra-se na deliberação arrojada de Mario Draghi de comprar dívida pública aos países europeus, injectando mais de 1.1 biliões de euros até Setembro de 2016, com o objectivo de fazer crescer a economia. Esta medida, que irá trazer também taxas de juro mais reduzidas para empréstimos a longo prazo, embora alvo de críticas por alguns analistas, parece-me bastante animadora e com grande potencial de impacto positivo no caminho da superação da crise europeia.

Contudo, importa referir a necessidade fundamental de, com a venda da dívida pública e consequente injecção de capital, serem implementadas reformas estruturais e investimento estratégico, para efectivamente se confirmar o crescimento económico e a criação de emprego, tendo em conta uma sustentabilidade futura, traduzida num fortalecimento e solidez do nosso tecido empresarial. De outra forma, esta medida pode não ter o resultado esperado, e corremos o risco de gerar ainda mais dívida e piorar a situação a médio e longo prazo.

Espero que estes sinais sejam na verdade sinais de mudança para a Europa, por um lado pelo abanão nas estruturas de poder, e por outro, como já há algum tempo venho a referir, pela demonstração de que existem para além da austeridade mais formas de resolver a crise, como é o caso do investimento, que se for aplicado de forma séria nos permitirá pagar as dívidas de modo mais suave, poupando os povos alvos de resgate a pagar um preço tão elevado de forma tão imediata. 

 


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