8 Agosto 2014      01:00

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Portugal

Um ser humano estimável, com cerca de dois anos de idade pode, sem motivo aparente, perguntar, ao seu Pai, o que é Portugal. A resposta mais imediata pode muito bem ser: chão. Territorialmente falando é assim. Chão.

Mas, evidentemente, Portugal não é só chão, nem que a isso se juntasse o mar, as pessoas dentro e fora de fronteiras, a língua… Portugal é muito. Muitíssimo. Numa aceção de pendor abstrato Portugal seria, provavelmente, a língua portuguesa. Pensar em português é ser Portugal. O rigor da denominação oficial obrigaria a falar da República Portuguesa. Nesse domínio Portugal, simplesmente, não existe. Existe a República Portuguesa. Felizmente a criança em causa perguntou por Portugal. A República Portuguesa levaria a discussão mais extensa. Trata-se de uma República, com tudo o que isso acarreta, em princípio, e portuguesa… bom, mantenhamo-nos, apenas, em Portugal.

Portugal que, curiosamente, consegue ser, claramente, menos republicano que alguns estados onde a monarquia existe. Porquê? Como pode uma família e seus acólitos, servos e súbditos, permitir que toda uma Nação trate melhor da coisa pública do que uma República que, em princípio, não sustenta uma família, seus acólitos, servos e súbditos? Enigmas… O que foi, é e será, então, Portugal? Uma opinião pode ser formulada partindo do início dos tempos. Como pode uma Nação, com cerca de 800 anos, um código linguístico constituído com insistência e as mais antigas fronteiras estáveis da Europa, chegar ao estado atual? “Árvore que nasce torta, tarde ou nunca se endireita”… Será? Toda a existência é cíclica… Será? Uma resposta pronta: explorando os mais fracos, enfraquecendo-os, estupidificando-os, não se pode chegar longe! Isto explicaria muito!

Para quem anda de Norte a Sul, Este a Oeste, Ilha a Ilha, e observa comportamentos portugueses, e pode compará-los com comportamentos de pessoas noutros países, do Norte, Sul e Centro da Europa, o que ressaltará? Uma opinião: a sinalética. Noutros países europeus é possível seguir placas. Mas também: a higiene. Há países onde a velocidade com que o lixo sai do chão é superior àquela com que é posto. Isto chega? Não!

Voltando ao passado: o último país da europa a abolir a missa em língua não-nacional (latim). Relevante? Considerando que ir à missa é assistir a uma aula e que, para muitos, essas eram as únicas aulas que tinham, talvez não seja irrelevante… Quando Sebastião José foi Primeiro-Ministro expulsou quem ensinava publicamente (Jesuítas) e abriu concurso público para professores primários (à data chamavam-se como se chamavam). Sem haver quem ensinasse concorreram menos do que os necessários: barbeiros e afins. Todos os que sabiam, de alguma maneira, ler, escrever e fazer contas arranjaram emprego público como professores. Interessante? Há quem diga que isso justifica gerações de analfabetos-matemáticos (matemático-excluídos), até aos dias de hoje.

Que tal?

Com tantos portugueses “entalados” nos bancos, será que fazer contas é o pecado- capital (nunca melhor dito dado o significado económico de capital)? Cerca de quinze milhões, dez dentro de portas, quase todos caindo ao mar (entre Porto e Lisboa), sem saber dele tirar a riqueza possível, com pouca terra fértil, e muita abandonada, sem comida feita cá para todos, com emigrantes de luxo, sem técnicos superiores capazes de aproveitar fundos-financeiros através dos mais variados projetos, mas com licenciados em tudo e em nada, clima de paraíso e jovens que fazem de conta que estudam para enterrar o dinheiro dos pais em discotecas, copos e calças rasgadas…

Será este, hoje, o retrato de Portugal?

Uma guerra civil sem armas de fogo, feita de festivais de música e jogos de futebol? Gerações de peritos na construção de agendas de telemóvel (não sei fazer mas conheço quem sabe!)!? Alergia à produtividade, atividades públicas feitas por funcionários-públicos rentistas (especialmente nas chefias!) que andam de Constituição na mão, pedindo o que acreditam ser seu por direito constitucional, enquanto quem manda diz não poder dar, porque não tem para dar, mas tem para pagar as dívidas das famílias dos donos dos bancos? Serão estes os pecados-capitais?

Os “amigos do Rei”, que não há, serão estes, também (os donos do dinheiro português)? Não será esta a resposta a dar a uma criança de dois anos. Perguntas respondem demasiadamente. Aos dois anos saber que Portugal é chão chega. Aos vinte e dois terá ajudado a levantá-lo do chão! Afinal, de levantamento em levantamento cá se vai andando. E ainda bem! Viva Portugal!