5 Fevereiro 2015      00:00

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O correr dos dias | 5 fev "Contos de crianças e outras infantilidades"

Depois de Pedro Passos Coelho ter apelidado as pretensões gregas de “conto de crianças”, Varoufakis, Ministro das Finanças grego - ao qual tem sido dado mais relevo pelo modo de vestir e por viajar em classe económica (algo que todos os governantes deviam fazer) que ao seu plano revolucionário económico – respondeu a Passos através de um assessor, citado pelo diário Económico, dizendo que "os contos de crianças trazem sempre esperança".

Precisava Passos Coelho ter-se posto a jeito para ouvir respostas de um assessor de um ministro de um parceiro europeu?

Por falar em contos de crianças, por cá também há histórias, e tristes, como a que Alexandre Tomás, presidente da Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros, revelou ao Jornal i: “Há pessoas a chegar desnutridas às urgências. E crianças com fome”.

Aponta o dedo à tutela, dizendo que faltam 2 mil enfermeiros, só no sul do país, e que desses 2000, 750 aguardam autorização para trabalhar desde 2012.

Diz ainda que nem tudo é uma questão de dinheiro, falta também reorganização e vontade política. Paulo Macedo está no topo da crítica.

Mas também o Papa aparece em defesa das crianças e a apontar o dedo para as dioceses exigindo que parem de ocultar os casos de pedofilia.

“As famílias precisam de saber que a Igreja está a fazer todos os esforços para proteger os seus filhos” revelou numa carta enviada às conferências episcopais, e acrescentou que o "Desejo de evitar o escândalo" não pode sobrepor-se à proteção dos menores.

Quanto tanto se volta a falar de professores e das suas alegadas incompetências, surge o caso de umafalsa professora que deu aulas durante dois anos no ISLA - Instituto Superior de Línguas e Administração.

É curioso, pelos vistos duvida-se mais das competências das Universidades e Institutos Superiores em formar professores que com a veracidade e comprovação dos dados apresentados em candidaturas individuais e Currículos, incluindo na Assembleia.

Sobre o tema, recomendo vivamente o artigo de opinião de Vasco Pulido Valente no Público.

Também na Assembleia, a maioria voltou a chumbar a audição de membros do governo, ou pessoas ligadas a casos que podem denegrir a sua imagem.

Desta vez foi Portas no caso dos “vistos Gold”, antes foi Cavaco Silva, o responsável do “Citius” etc. num princípio que é errado e incorreto do ponto de vista democrático e do esclarecimento de um povo que representam e a quem devem respeito. Mas o problema não é de agora; tem sido recorrente nos partidos do poder. A lei deve ser revista e as explicações devem ser dadas sem necessidade de votação. Tudo a bem da clareza e idoneidade das investigações, apuramento de responsabilidades e credibilização da classe política.  

Neste caso, Paulo Portas até se disponibilizou desde o início do caso para discutir no parlamento as alterações legislativas ao processo de 'Vistos Gold'.

Mas ainda na Assembleia, Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, disse que as sucessivas interrupções, ontem na comissão de Saúde, por parte de um doente com hepatite C, foi um episódio que “não dignifica os trabalhos parlamentares".

Não sei se dignificará ou não o trabalho, certamente não ajudará ao desenvolvimento e organização do mesmo, mas que alternativas restam à população para fazer ouvir a sua voz, e no caso, o seu desespero?

A maioria parlamentar revelou também hoje que quer vigilância para condenados por violência doméstica com pena suspensa. Assim, PSD/CDS apresentaram hoje um importante e relevante pacote de medidas para proteção das vítimas de violência doméstica de onde, e além da já referida, se destaca também o encurtamento de prazos para aplicação de medidas de coação e de proteção das vítimas e dos menores e a um aumento da celeridade dos processos.

Estas alterações implicarão uma alteração ao Código Penal e à lei da violência doméstica, mas constituem, sem dúvida, uma melhoria muito relevante nesta área.

Lá por fora, e depois da morte de um procurador que acusava a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, de ilibar o Irão de responsabilidades no ataque terrorista à Associação Mutualista Israelita Argentina (AMIA, em troca de boas relações comerciais, à terceira tentativa (os dois anteriores recusaram-se), lá houve um juiz a aceitar o processo contra a presidente.  Daniel Rafecas decidirá agora se chama Kirchner a tribunal para prestar esclarecimento, ou não.

Mas a grande nota internacional do dia vai, novamente, para a Grécia, mais concretamente para Varoufakis que se reuniu com o homólogo alemão Schäuble.

Até agora a conclusão é que estão em desacordo até sobre estar em desacordo! É isso mesmo, na hora de resumir a reunião à imprensa, Schäuble terá dito "Concordámos que discordámos" e minutos depois, Varoufakis levou ainda mais longe a discordância dizendo "Nem sequer concordámos que discordamos".

Depois deste encontro de hoje, e que não se pode dizer que se esperassem resultados diferentes, a próxima grande prova do novo executivo grego é reunião do Eurogrupo, a 16 de fevereiro, onde tentarão convencer os Estados-membros a apoiar o seu plano.

Luís Carapinha, editor