22 Novembro 2014      23:23

Está aqui

A mentira também se abate; basta!

É comum dizer-se que os portugueses se fizeram ao mar e ao Mundo numa casca de noz; sem medo e à deriva lá chegámos à India, ao Brasil, ao Japão, à Nova Zelândia, a novos mundos. Mas nem aí estivemos tanto à deriva como hoje.

A política e os seus praticantes são parte essencial da vida em sociedade. O Estado que os políticos regem é nosso, somos nós; todos e cada um de nós no mais íntimo do seu ser-cidadão com base na igualdade e na liberdade. O Estado está e existe para servir as pessoas, não os grupos económicos e os interesses de uma minoria de pessoas. Os princípios democráticos assim o exigem, no entanto, a democracia foi sendo desvirtuada e neste momento não existe na realidade. Os jogos de bastidor, os golpes palacianos, as más escolas partidárias e o sentimento de vale-tudo no backstage político, deram a Portugal um verdadeiro sistema político de 3º mundo, sem vergonha e sem valores.

O “lambecuzismo” e a defesa do “próprio-umbiguismo” ocuparam o espaço político e afastaram pessoas de bem. É hoje mais difícil chegar-se a líder partidário que a Primeiro-ministro; e isso que nos partidos ainda há bons Homens, e alguns até em cargos de relevância e líderes; no entanto, para se chegar lá tem que se fazer parte de um sistema podre de compadrios e acabam líderes rodeados de trampa, esgotando-se o valor do que realmente podia ter sido uma mudança, tornando-se um bom político em mais um.

Faltam estadistas. Sá Carneiro disse-o "O nosso Povo tem sempre correspondido nas alturas de crise. As elites, as chamadas elites, é que quase sempre o traíram, e nós estamos a ver mais uma vez que o Povo Português foi defraudado da sua boa-fé." E se o fizeram antes, hoje voltam a fazê-lo, com a nuance de agora não há mais nada para roubar. Portugal se estava de tanga, agora já lhe faltam partes do corpo. Na prisão de Sócrates só uma coisa mudou: o nome. Muitos se seguirão e de todos os partidos.

Os mesmos que deram esperança ao país, então atrasado, sem esperança, inculto e com fome, agora montam o circo para distrair aqueles que um dia neles acreditaram e que os puseram nos lugares que ocupam. São eles a mesma geração que nos rouba agora a esperança e nos hipoteca o futuro; não por erros de estratégia, não por variantes internacionais, mas porque quiseram mais e mais para eles mesmos. Portugal não paga investimentos falhados, paga porque houve quem roubasse, corrompesse e sacaneasse a favor do seu umbigo e do dos seus fiéis súbitos, que enquanto comem não mordem. São os mesmos amestrados que hoje, após as notícias da prisão de Sócrates (estranho as televisões estarem para filmar, não é?) vieram logo bater ou defender o ex-PM. Antes, outros fizeram o mesmo com Paulo Portas, Isaltino Morais, Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras, Miguel Relvas etc. etc. etc. e a estes juntam-se os Ricardos Salgados, os BES, os BNPs, os submarinos, as universidades, os vistos “Gold”, as PTs, os Bavas, as subvenções e outros tais. Já chega. Portugal não quer mais disto!

Esta corja está cravada nas entranhas do Estado como lapas; de tal modo que se confundem com o próprio Estado. Não saem porque têm medo que alguém descubra o teatro por detrás da figura. Porque querem manter o “status”; e isso nem seria mau; a manutenção do sistema e da imensa coleção dos “mesmos de sempre” seria boa se os mesmos fossem bons e se os seus valores e princípios fossem universais, democráticos, pondo o Estado ante o indivíduo.

Estes que incitam as gerações melhores preparadas de sempre a emigrar, a “desaparecer” do mapa nacional, fazem-no para se manter onde estão. E os que ficam pagam a desobediência com a mágoa de não poderem dar aos seus filhos a estabilidade que os seus pais lhes deram. Os mesmos pais a quem recorrem hoje com pedidos de ajuda, mas que por via do roubo social também já não o conseguem fazer.

É preciso dizer basta! Parar com estas injustiças e com esta espiral antidemocrática sob pena das gerações vindoiras não conhecerem Portugal como democracia.

A sociedade portuguesa não se pode afastar da política pois isso afastará a liberdade. Há bons políticos, sobretudo nos poderes locais, nas juntas de freguesia; esses sim sabem o que é liderar e representar o povo e fazer pelo povo. Esses sim respeitam o Estado e Portugal mais que os que montam cenas no parlamento como os cornos do Pinho, as conversas desconexas de Pires de Lima (ainda assim, um grande ministro; o melhor desta legislatura, de longe), as cenas dos microfones etc.

As pessoas estão acima dos Partidos e se os partidos não as representam deixam de fazer falta. Se os nossos vizinhos podem, nós também podemos. Talvez por isso Marinho Pinto (com todos os seus defeitos e virtudes) seja acusado de populista por todos os partidos do arco da governação; é um “outsider”, um fora do sistema e isso para alguns é o mesmo que “fora-da-lei”, da lei deles. É, por isso, um alvo a abater, incomoda como o “Podemos” incomoda Espanha; mexe com as peças no tabuleiro e baralha as contas.

Aos militantes partidários restam duas opções: sair e procurar quem lute pelos valores em que acredita ou tentar mudar por dentro. Sei por mim que mesmo tomando a primeira opção, tarde ou cedo, se chegará à segunda.

Dar a cara só dou por quem acredito e só naquilo em que acredito. Campanhas políticas já participei em muitas; até acreditei em muitos e já votei em vários partidos. Apoiar em campanhas políticas fá-lo-ei sempre que acredite; seja de que cor, seja quem for, mas idolatrar só Eusébio!

Gosto e admiro muitos políticos sim, é verdade. Churchill, Lincoln, Sá Carneiro, Salgueiro Maia, Gandhi, Antero, Eça, Monnet, Mandela entre outros. Entre eles têm em comum o respeito que tiveram pela liberdade e dignidade humana indispensável ao ser humano e que tanta falta nos agora.

Eça de Queirós, há quase 150 anos está, como sempre, atualíssimo «Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: - mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não - pelo menos o Estado não tem: - e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela Política. De sorte que esta crise me parece a pior - e sem cura.» Que fazer Eça? Mudar! Por nós, todos; mas sobretudo pelo futuro!