26 Maio 2014      23:52

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Ecos das europeias

Enquanto em Portugal se discute se 4% por cento são suficientes para se cantar vitória, a Europa desfaz-se como uma escultura de areia. Foi da França, do país dos mais nobres ideais da “Liberté, Egalité, Fraternité” que surgiu a “bomba” da noite, apesar de prevista: a extrema-direita ganhou as eleições! À medida que se apuravam resultados, à “Front National” de Marine Le Pen (cujo pai, dias antes tinha referido o vírus Ébola como uma solução para a sobrepopulação mundial) juntavam-se a dos antieuropeístas britânicos do UKIP de Farage. Ao longo da noite surgiram mais relatos de subidas de partidos eurocéticos, de partidos da extrema-direita e também da extrema-esquerda.

 

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Ilações: a Europa a que se chama de União falhou. Falhou porque esta de agora, a que se denomina União, é muito mais cruel e mais economicista na prática que a CECA, cujos objetivos iniciais eram o mercado do carvão e do aço! A Europa falhou porque faltam ideais, porque falta igualdade, porque falta uma constituição. Estes resultados aconteceram porque os partidos do eixo central falharam; porque estas políticas falharam, porque alguns países da Europa se aproveitaram dos outros e porque, por motivos económicos e pseudo-geo-estratégicos, se foram juntando países e mais países sem se criar uma verdadeira identidade, um conceito do que é ser-se europeu (mesmo mantendo a nossa identidade nacional!). Mas há também um português que falha: Durão Barroso, que, quer se queira quer não, foi o presidente da União Europeia durante os últimos (quase) 10 anos.

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 Ao novo hemiciclo de Bruxelas chegarão dezenas de deputados eurocéticos, legitimados pelo voto de europeus, também eles eurocéticos. Mais, dentro destes eurocéticos há pequenos grupos cujos ideais são tudo menos humanistas, quanto mais europeístas. Falo de grupos fascistas e racistas, antissemitas, que por vezes são até violentos, antidemocratas, homofóbicos e sexistas como o “Jobbik” da Hungria. Da Alemanha chegará também o NPD que defende a expulsão do euro dos países do sul da Europa e ergueram cartazes que diziam que “a Europa é dos brancos” e “dá-lhe gás (imagem 2) e o Alternativa, com mais sete deputados eurocéticos. Da Grécia, vai o Aurora Dourada, de inspiração nazi e com muitos militantes ainda presos, e da Holanda o Partido da Liberdade, de Geert Wilders.

 

Mas a este fenómeno extremista, que deve pôr a Europa em alerta, junta-se um outro também populista: o da subida dos desconhecidos. Este fenómeno levou à eleição vários de eurodeputados, em toda a Europa, de partidos até aqui inexistentes ou residuais nas contagens de votos. Em Portugal teve expressividade na eleição de dois deputados do MPT, liderado por Marinho Pinto, mas em Espanha, o “PODEMOS” elegeu cinco deputados. Liderado por um professor universitário, Pablo Iglesias (imagem 3), conhecido por ser um crítico/comentador político justo e que diz o que tem que ser dito, o “Podemos” marcará presença em Bruxelas com esta ligeireza de quem diz o que quer, e que tudo fará para impedir que os países do sul da Europa sejam uma colónia da Alemanha.

 

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Ainda em Espanha, já se fazem reflexões e tomam-se atitudes: O PSOE, realizará um Congresso Extraordinário para escolher novo líder (23% ontem, atrás do PP, partido do governo com 26%). Mas também o PP, vencedor, analisa a sua queda e continua a defender o modelo bipartidário.

Cá em casa, e a julgar pelos discursos, nunca ninguém perde. A Aliança porque só teve menos um deputado que o PS, o Bloco porque elegeu um deputado (tinha 3) etc. A CDU, que subiu (como faz sempre em altura de crise), ganhou mesmo. E claro, o PS foi de fato o vencedor da noite em que a direita teve uma derrota histórica, situando-se abaixo dos 30% pela primeira vez. O PS teve mais votos, maior percentagem e mais deputados. Mas face a esta derrota histórica, o PS não teve uma vitória (para utilizar o contraponto) histórica. A questão geral que se levanta é: terá sido suficiente tendo em conta o desgaste dos partidos do Governo? Não se terá Assis precipitado nos seus primeiros comentários? Em resposta, não à primeira e sim à segunda. Primeiro grande erro: não se confundam eleições europeias com legislativas; segundo, não se fala sobre projeções!

Se os resultados do PS tivessem sido convincentes, no dia seguinte, e ainda na noite das eleições, não teriam surgido quer o espetro de António Costa, quer os comentários de Carlos César, quer os comentários do mesmíssimo António Costa, que, ao “Correio da Manhã” disse: "há que refletir para garantir que então (nas legislativas) a vitória não volte a saber a pouco e, para isso, todos temos de estar disponíveis para fazer o que for necessário fazer".

Mas o que os dois grandes blocos da política portuguesa (independentemente das ilações estruturais a nível das lideranças) devem fazer é refletir se a política seguida até aqui nos levará a algum lado. Se não haverá modelos políticos que revelem maior abertura e mais representatividade social nas políticas a levar a cabo. Porque sobem os independentes e os novos partidos? É aqui que as forças se devem concentrar; é preciso ouvir e olhar para fora e perceber a vontade da população. Regenerar políticas e modos de fazer política, quer em Portugal, quer nesta Europa moribunda!

Os próximos tempo devem ser de reflexão e depois devem surgir mudanças, caso contrário, os fenómenos que aqui aconteceram continuarão a ganhar relevância. Depois será o repetir da História a quem tanto se tem virado as costas. Não esqueçamos que a Crise ucraniana foi posta em stand-by para estas eleições, mas que devem existir desenvolvimentos proximamente, e que a Rússia se aproxima da China e que…

 

(imagem 1 de envolverde.com.br; imagem 2 de www.telegraph.co.uk; imagem 3 de elmundo.es)