15 Fevereiro 2020      11:43

Está aqui

Esta é a última letra do alfabeto. Terminam-se hoje aqui vinte e muitas semanas, cada uma com uma letra diferente, cada uma com pessoas, lugares, situações tão diversas como os lugares onde foram escritas.

Z é a última letra, aquela que termina o abecedário e que tanto serve para contar coisas que, sem ela, não fariam sentido. Hoje, conta-se a história verídica do Zé dos Ziguezagues que achava que era o Zorro e roubou uma zebra do Jardim Zoológico. Quem era o Zé? Bem, ninguém sabia ao certo pois a personagem tinha passado metade da sua vida adulta abandonada num hospital psiquiátrico. Nunca tinha tido um fim de semana livre nem visto os raios do sol além dos muros e dos portões daquele hospital que se lembrasse. Zé dos Ziguezagues era assim chamado porque, infelizmente, quando começou a ter os primeiros sintomas da sua esquizofrenia, passou a andar aos Ziguezagues porque via no caminho casinhas de chocolates e animais que não queria pisar. Existiam só na sua cabeça, como tanta coisa existe só na cabeça das pessoas. Não sabemos que assim é. Zé também não sabia que aquelas casinhas e aqueles animais não eram mais do que a sua imaginação. Ainda assim, e por isso, não os pisava.

A situação agravou-se no dia em que acordou a vizinhança toda, ao correr para cima do monte e começar a cantar, completamente desprovido de roupa, como se fosse um galo. Eram 4 da manhã. Zé achava, acreditava mesmo, que era um galo cujas penas tinham fugido para longe de si.

A família andava aterrorizada. Aquilo não podia estar a acontecer a tão deputada família lá do burgo. O rapaz não podia ser maluquinho. Mas era! Não somos todos? Ele era diferente. Ninguém sabia, mas Zé dos Ziguezagues aprenderá a escrever muito novo e guardava religiosamente os livros onde passava os dias a escrever, quando não andava a fazer aquelas coisas que todos achavam de louco.

Internaram-no. Passou 20 anos medicado e fechado naquele hospital. Depois de tantos anos, não se lembrava como era o sol fora daquele lugar. A única coisa que o deixava mais calmo, além obviamente da medicação, eram os livros em branco que lhe davam. Fazia magia.

Depois desse tempo todo, chegou a altura de sair. Os médicos decidiram que era altura de soltá-lo e deixar que Zé tentasse reintegração na sociedade. Assim foi. Era uma bela manhã de segunda-feira quando lhe abriram a porta. Do lado de fora, um mundo desconhecido. A figura de Zé desapareceu no nevoeiro que naquela manhã aparecia e escondia a cidade. Zé levou tudo consigo, deixando apenas atrás um dos livros que escrevera.

A enfermeira começou a ler, curiosa e ficou impressionada com a história! Era a escrita de alguém visionário que conhecia o futuro como se o vivesse. Era alguém que descrevia uma realidade desconhecida com uma destreza invulgar. Era o Zé dos Ziguezagues.

Nesse livro, era contada a história de um senhor perdido dentro de si que se transformava e imitava o conhecido Zorro, mas em vez de ter por transporte um cavalo, tinha uma zebra e a sua roupa era semelhante à pele da zebra! O ideal de Zorro era fazer justiça numa terra onde não havia homens justos e os que houvera, tinham saído do país. No final, tudo daria certo no livro. A enfermeira ficou emocionada e, muito mais, impressionada com a qualidade. Zé Ziguezagues sabia. Correu ao escritório do médico para lhe contar o sucedido. Ambos decidiram que era preciso encontrá-lo de novo. Ambos não queriam perder todos os outros livros que levara consigo.

Porém, no meio daquele nevoeiro, nunca mais o conseguiram ver. A única coisa que se soube, e que poderá porventura estar relacionada com o caso, foi o roubo de uma zebra do zoo e um homem a cavalgá-la pelas Laranjeiras acima, até desaparecer de novo no nevoeiro. Z